Aprovado por Rita Lee, novo documentário exalta a verdade que acompanhou a cantora em toda a sua trajetória

Divulgação

A autenticidade de Rita Lee foi um marco em todos os aspectos de sua vida, tanto no âmbito profissional como pessoal. Essa verdade, tão característica da artista que nos deixou em maio de 2023, é exaltada no documentário Ritas, que recentemente esteve em cartaz nos cinemas brasileiros.

A obra dirigida por Oswaldo Santana, com codireção de Karen Harley, é narrada pela própria cantora através da última entrevista gravada por ela, e ainda revela imagens inéditas da artista que foram capturadas ao longo do processo de criação do filme. O longa também conta com um vasto material de acervo, que ajudou a guiar a retrospectiva dos mais de 60 anos de carreira da artista.

Em conversa com o TMDQA!, Santana revelou que o documentário foi aprovado por Rita ainda em vida, e também recebeu todo o apoio do viúvo Roberto de Carvalho e da família da cantora. O diretor compartilhou a emoção de revisitar a trajetória dessa artista tão multifacetada e contou que se surpreendeu com a qualidade de alguns aspectos que ele não tinha conhecimento sobre a cantora:

“Todas as entrevistas da Rita são muito verdadeiras, muito sinceras e verdadeiras. Então, sim, é muito rico. Você, por exemplo, se depara com o material bruto dessa entrevista e vê tanta qualidade, tanto ouro, tanta propriedade, tanta coisa legal. Então, sim, trouxe algumas coisas nesse processo de se debruçar e nesse processo até de abertura deles mesmos.

Por exemplo, o lado artista plástica dela. Isso foi uma grata surpresa, de ver o talento dela também dentro disso. Porque não é só as diversas coisas que ela se propôs a fazer, mas a qualidade que ela entrega. Então, desde as artes plásticas, ela como escritora, tem a autobiografia, tem os livros infantis, e o lado ativista. É muito rico se debruçar sobre um material tão vasto e enxergar tanta qualidade, tanto talento. E eu gosto de falar: tanta verdade.”

Na entrevista, que você pode ler na íntegra logo abaixo, Oswaldo Santana também falou sobre o desafio de escolher as músicas de Ritas e como ele acredita que o documentário pode proporcionar o “reencontro” entre Rita Lee e as novas gerações. Aproveite e veja o trailer ao longo do post!

TMDQA! Entrevista Oswaldo Santana

TMDQA!: Pra gente começar, eu queria saber um pouco do início do projeto. Quando surgiu a ideia de fazer o documentário e como foi o processo de pesquisa de vocês?

Oswaldo: Vamos lá. O projeto se iniciou em 2018, adquirindo os direitos da autobiografia dela. E aí, com os direitos adquiridos e o mergulho nessa autobiografia, a gente deu o start, gravando essa entrevista exclusiva que a gente tem com ela. Essa entrevista foi feita pela minha co-diretora, Karen Harley. Em paralelo a isso, a gente começou o início das pesquisas, tá? Então, inicialmente, a gente teve um pesquisador, que é o Venâncio, um grande pesquisador, depois houve uma segunda rodada de pesquisa que complementou a primeira pesquisa e trouxe um outro tipo de acervo. Por exemplo, acervo de fotos. E que também se descobriram muitas pérolas, que até então eram pouquíssimas vistas. Como, por exemplo, o momento em que ela está de Nossa Senhora Aparecida. Aquele momento em vídeo é um momento muito raro, surpreendeu até a própria família. Aqui vai a minha devida gratificação para Eloá [Chouzal], que foi a segunda grande pesquisadora que entrou, pra trazer mais material e conseguiu achar isso daí.

Claro que, dentro desse processo, começou a chegar material de acervo da própria família. E a gente notou que eles tinham uma dinâmica de, como muitas famílias, de gravar os momentos especiais. Então começou a chegar muito material deles, gravando entre eles ali. E a gente viu muita força, muita riqueza dentro disso. Começamos a pedir mais coisas, né? E começou a chegar o material mais recente da Rita, de celular. E, com isso, a gente abriu a possibilidade e entregamos um celular para ela também. Então a gente tem, vamos dizer, essas três bases para o filme.

TMDQA!: Como vocês chegaram à decisão de usar a voz de Rita para contar sua própria história, e qual foi o impacto disso no tom do filme?

Oswaldo: Olha, foi um caminho meio natural. Como a gente partiu da autobiografia, que é a Rita contando, foi um caminho meio natural da gente fazer esse documentário quase como em primeira pessoa. E, claro, a pessoa da Rita narra qualquer fato de um jeito muito peculiar. Muito dela, né? Trazendo o deboche para com assuntos sérios. Então a gente sabe que a Rita se expressa de uma maneira muito única. Então a gente acreditou muito que esse seria o caminho do filme.

TMDQA!: O que foi mais revelador ou emocionante para você enquanto cineasta ao ouvir essa última entrevista da Rita Lee?

Oswaldo: Primeiro pela verdade que a Rita teve em todos os momentos da vida. Não é só essa entrevista. Todas as entrevistas da Rita são muito verdadeiras, muito sinceras e verdadeiras. Então, sim, é muito rico. Você, por exemplo, se deparar com o material bruto dessa entrevista e vê tanta qualidade, tanto ouro, tanta propriedade, tanta coisa legal. Então, sim, trouxe algumas coisas nesse processo de se debruçar e nesse processo até de abertura deles mesmos.

Por exemplo, o lado artista plástica dela. Isso foi, para mim foi uma coisa, uma grata surpresa, de ver o talento dela também dentro disso. Porque não é só as diversas coisas que ela se propôs a fazer, mas a qualidade que ela entrega. Então, desde as artes plásticas, ela como escritora, tem a autobiografia, tem os livros infantis, e o lado ativista. É muito rico se debruçar sobre um material tão vasto e enxergar tanta qualidade, tanto talento. E eu gosto de falar: tanta verdade.

TMDQA!: Rita teve um papel essencial na história da música brasileira. Mas considerando sua vasta carreira, existe algum momento ou fase que você acredita que foi subestimada ou esquecida pela mídia e que, de alguma forma, o documentário tenta recuperar?

Oswaldo: Não sei se subestimado. Mas, uma das coisas que eu acho que a gente está se deparando com esse documentário é que… eu não sei se a gente tem material… o inédito seria essa coisa desse momento, dela fantasiada de Nossa Senhora Aparecida. Temos o vídeo e o áudio disso, mérito da Elóa de trazer isso pra gente. Isso a gente sabe que tem muito ineditismo nisso aí. Mas, voltando aqui, eu acho que tem muita coisa ali que foi pouco vista, assistida uma vez. Lembrando que a gente está num processo desde a década de 60, tentando ilustrar. Então a gente não tinha essa… era… “porra, dá um Google ali e você encontra”. Então… tem muito disso. De você se debruçar por coisas pouco vistas e essa compilação, que te joga também pra um outro sentido.

Continua após o vídeo

TMDQA!: E com um catálogo marcado por tantas músicas de sucesso, como foi feita a seleção das faixas que ganharam destaque durante o documentário? O que definiu a escolha dessas músicas?

Oswaldo: É um documentário musical, então, confesso aqui que a gente começou… “Ai, porra, 12 músicas! Porra, já estamos em 20! Porra, chegamos em 30”. Se não me engano tem 32 músicas no filme. Então, sim, tinha todo esse cuidado. Agora, o recorte, pra você chegar a isso eu, os produtores, os roteiristas e a própria família ali… eu acho que a música da Rita, as composições da Rita ela tem um poder de conversa muito forte. Então, a primeira coisa é: se encaixa dentro desse momento do roteiro, então, a gente faz.

Vou dar um exemplo bobo aqui, entendeu? Mas hoje a gente tá falando sobre amor. Vamos pesquisar as músicas da Rita, daí você vai, encontra, aí você vê o ritmo. Mas, principalmente, uma outra camada, que é a camada emotiva que você carrega com essas músicas. A gente convive com elas, a gente tem grandes momentos com as músicas dela. Então, teve esses dois recortes: o que é pertinente para o roteiro, que continua no discurso e a carga emotiva que cada pessoa traz escutando essas músicas. Por isso também a opção de… vamos deixar a música tocar. Vamos ser longos, né?

TMDQA!: Em muitas fases da carreira da Rita ela teve uma relação muito próxima com o público, especialmente com os jovens. Como você acredita que o documentário pode proporcionar esse “reencontro” entre Rita e o público atual, principalmente com as novas gerações que não viveram sua carreira de perto?

Oswaldo: Primeiro que a Rita atravessa gerações, né? Então, sei lá, eu convivo com várias crianças que sabem quem ela é. Eu acho que a Rita ali entra na nossa vida meio quase como por osmose. Eu acho que é um processo muito legal, tanto dos pais de levarem para os filhos, como dos próprios filhos descobrirem e virem comentar com os pais: “Nossa, agora eu tenho a dimensão da importância que você sempre me falou que a Rita teve na sua vida”. Então, eu acho que vai ter essa troca e eu acho que as gerações mais novas vão encontrar essa verdade, essa pessoa que rompeu tantas barreiras, num momento duro, barra pesada, entendeu? Ela representa muitas coisas. Não é só uma mulher no rock’n’roll, é uma mulher no rock’n’roll que traz temas como o prazer feminino, e sim, enfrentando tudo isso com deboche, beleza, criatividade e, acima de tudo, muita música boa, né?

TMDQA!: Os familiares de Rita sempre estiveram muito próximos dela e isso ficou ainda mais evidente nesses últimos anos. Como foi a participação deles na construção do documentário? Como eles reagiram ao documentário?

Oswaldo: Foi muito rica, né? Foi uma troca muito sincera, rica e de confiança. Então, a gente ia dividindo com eles as várias etapas que compõem a produção de um filme. O processo começou em 2018, então é muito tempo. A gente passou por diversas etapas, então, a cada etapa importante, dividimos com eles.

Houve muitas trocas com eles, desde o material próprio do celular. Como a gente começava a montar, mandava, e ia entendendo as sensações causadas. E não houve nenhum tipo de “isso não”, “isso sim”, “acho que isso não faz parte da família”, né? Sempre criativo, mas assim, houve, sim, claro, comentários. “Putz, isso aqui ficou legal”, complementos: “olha, isso aqui tem uma outra coisa também que complementa isso”, tá? Então, eles foram participativos até o final do processo, que ainda está acontecendo com o filme nos cinemas.

TMDQA!: Que massa! E eu fiquei curiosa agora pra saber se a Rita chegou a ver um trecho do documentário ou viu o material na íntegra?

Oswaldo: Sim! Como a gente dividiu etapas importantes do processo, sim. Ao longo da pandemia, a gente chegou na estrutura que a gente pode dizer que é a estrutura que está indo ao ar. Claro, o processo não estava lapidado. Por exemplo, as animações, as artes ainda não tinham sido desenvolvidas. Então, essa estrutura de documentário, ela assistiu um pouco antes do falecimento. Essa informação chegou pra mim e… é emocionante falar isso, né? Porque ela [disse]… vai!

TMDQA!: Que demais! Aprovado por ela!

Oswaldo: É, por ela. Roberto, grande Roberto, obrigado por tanta troca, tanta conversa boa que a gente teve aqui.

TMDQA!: Esse é o seu primeiro filme assinando como diretor. Eu queria saber como suas experiências anteriores em projetos como “Bruna Surfistinha”, “Turma da Mônica” e outros refletiram no seu processo enquanto diretor de “Ritas”?

Oswaldo: Eu venho da montagem, tanto de ficção quanto de documentário. É comum, em documentário, você ter um volume muito grande de material, então, eu acho que me ajudou nesse ponto. Eu não me assustava tanto, falando: “Nossa Senhora, eu tenho um mundo aqui”. Então, acho que essa experiência me deu segurança de falar: “Não, vamos encarar, subir essa montanha”.

Eu gosto muito do início ali do filme, que ela fala: “Estamos aqui subindo essa montanha tão alta”. Então, foi meio esse processo. Então, a minha experiência anterior me deu o “não assustar”. E, claro, por ter convivido com tantos diretores talentosíssimos, feito tantos projetos tão diversos, me deu a segurança e a certeza de que eu estava pronto para assumir isso. E conduzir da forma mais adequada todo esse processo.

TMDQA!: Para gente encerrar, queria te oferecer um espaço para convidar os leitores do Tenho Mais Discos Que Amigos para assistir Ritas.

Oswaldo: Galera do Tenho Mais Discos que Amigos, eu acho que eu pertenço a esse mundo de vocês também, entendeu? Então, pra mim, é muito importante vocês assistirem o filme Ritas nos cinemas.

A experiência completa para esse tipo de experiência é dentro do cinema mesmo. Então, como tem essa experiência de você escutar um vinil, e só o vinil vai te dar essa experiência, esse filme foi pensado para a experiência completa ser dentro dos cinemas. Então quero convidá-los para ir aos cinemas assistir Ritas!

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Lara Teixeira

Aprovado por Rita Lee, novo documentário exalta a verdade que acompanhou a cantora em toda a sua trajetória


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