A despedida de uma lenda: Ebo Taylor encerra sua última turnê no Brasil
Mesmo sem subir ao palco, Ebo Taylor foi homenageado com um show liderado por seu filho Henry Taylor e participação de Pat Thomas, na Casa Natura Musical
A sexta-feira, 6 de junho, entrou para a história da Casa Natura Musical. No palco, a última apresentação da carreira de Ebo Taylor — o encerramento de sua última turnê pelo mundo. Ao lado de Pat Thomas, convidado especial da noite, a banda formada por familiares e amigos do músico guiou a plateia por duas horas e meia de um mergulho profundo na sonoridade e no legado de um dos grandes mestres da música africana. Sob a liderança de Henry Taylor, filho de Ebo, nos vocais e teclado, o grupo entregou um show vibrante, que emocionou o público e traduziu, em música, o respeito e o carinho pela trajetória do mestre.
Logo nos primeiros minutos, ficou claro que a noite seria especial. A primeira parte do show foi conduzida apenas pela banda, que trouxe interpretações de faixas como “Peace on Earth”, do álbum Life Stories (1977), e a poderosa “Heaven”, um som atemporal, que sintetiza a força criativa de Ebo Taylor e sua influência direta na música contemporânea. É o tipo de faixa que pavimentou caminhos e ainda reverbera hoje, como prova o sample usado por Usher na canção “She Don’t Know”, em parceria com Ludacris. Mas foi com “Love and Death” que a casa inteira se uniu em uma só voz. A canção lançada no álbum “Conflict” na década de 1980, marca um período de nova projeção internacional de Ebo Taylor em 2010, ao ser relançada em um álbum que leva o nome da canção.

A participação de Pat Thomas aconteceu após “Love and Death”, em um último grande ato que contou com sete músicas. Aos 79 anos, o vocalista e compositor foi ovacionado assim que entrou no palco, amparado por integrantes da banda. Ao cantar “Set Me Free”, emocionou o público e reafirmou a parceria com Ebo Taylor, iniciada em 1965. O set também incluiu “Ene Nyame ‘A’ Mensuro”, “Gyae Su”, “Coming Home”, “Obra”, “Yesu San Bra” e “Enye Woa”. Após a participação de Thomas, a banda retornou ainda mais enérgica para encerrar o espetáculo com “Kwaku Ananse” — mas a despedida se estendeu, com direito a dois bis.
A noite também carregava o peso dos dias (e meses) anteriores. Antes de chegar ao Brasil, aos 89 anos, Ebo Taylor fez uma intensa turnê de 23 datas pelas Américas, com apresentações no Canadá, nos Estados Unidos e no México. Após um show em que se entregou por inteiro, passou mal e precisou ser hospitalizado. Sofreu uma crise respiratória e precisou ser entubado, condição que prejudicou sua fala. Já em território brasileiro, não conseguiu participar da apresentação em Belo Horizonte, e o show no Rio de Janeiro precisou ser cancelado. Em São Paulo, sua presença era esperada com expectativa, mas por questões de saúde, ele permaneceu nos bastidores.
Mesmo assim, Ebo fez questão de se preparar. Vestiu o traje que usaria no palco e, no fim da noite, surgiu em uma sala na saída da casa, ao lado de Pat Thomas, para cumprimentar e tirar fotos com os fãs. Antes do início do show, Leo Moraes, representante do selo Jazz Is Dead, subiu ao palco para compartilhar que o artista estava recuperado e aqueceu o coração do público:
Ele quis estar aqui para esse show de despedida.
Banda da Família e laços com o Brasil
Apesar de raramente citados nos registros oficiais, os músicos que acompanharam Ebo, foram peças fundamentais da noite. No baixo, William Taylor. Na guitarra, Roy Taylor. Andy Biney comandou a bateria, enquanto Alex Gyan assumiu a percussão com precisão e liberdade. Os sopros ficaram por conta de Benjamin Osabutey (trombone) e Kofi Godson (trompete), em diálogos intensos com o teclado de Henry.

Em vários momentos, a fonética ganense, por vezes semelhante ao português, soava quase familiar aos ouvidos brasileiros. A resposta do público deixava claro que o idioma nunca foi um obstáculo. Essa ideia também foi compartilhada pelo baixista, William Taylor. “Acho que a música brasileira leva muitos elementos da música africana, como os atabaques”, afirmou. Quando perguntei se ele acreditava que os idiomas locais, como o Twi e o Fanti — falados em Gana — poderiam ser uma barreira para o público brasileiro, ele foi direto: “A linguagem da música é universal.”
Do lado de fora da Casa Natura, após o show, o baterista Andy Biney vestia uma camiseta com o rosto de João Donato, músico brasileiro que, segundo ele, gosta de ouvir. Perguntei o que mais tinha gostado no Brasil e a resposta foi imediata: a comida. Quando mencionei o uso de dendê em pratos típicos, ele sorriu, surpreso ao descobrir esse elo com seu país. Afinal, o dendezeiro tem grande importância econômica em Gana, um dos maiores produtores da África. Também perguntei se ele teria algum artista para indicar aos brasileiros. Em tom descontraído, ele disse: “Se quiserem conhecer mais da música africana além de Ebo Taylor, recomendo Fela Kuti.”
Jazz Is Dead
A vinda de Ebo Taylor ao Brasil foi viabilizada pelo selo Jazz Is Dead, fundado em 2017 por Adrian Younge, Ali Shaheed Muhammad (do A Tribe Called Quest), Andrew Lojero e Adam Block. O projeto promove gravações e shows com grandes mestres da música global. Com trabalhos anteriores de artistas como Roy Ayers, Marcos Valle, Tony Allen, Doug Carn e o grupo Azymuth, o selo lançou em janeiro o álbum Ebo Taylor JID022, em parceria com Adrian e Ali.
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Liz Sacramento
A despedida de uma lenda: Ebo Taylor encerra sua última turnê no Brasil
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