O dia em que um lendário baterista descobriu que gravou “Get Lucky”, do Daft Punk
No universo da música Pop, nem sempre os artistas sabem onde vão parar suas contribuições. Em uma entrevista recente, o lendário baterista Omar Hakim, que já tocou com nomes como Miles Davis e David Bowie, compartilhou uma das histórias mais surreais dos bastidores da indústria fonográfica, e ela envolve o Daft Punk.
Responsável pela batida do hit “Get Lucky”, o sucesso mais recente do duo francês e que faz parte do incrível disco Random Access Memories (2013), Hakim só descobriu que fez parte da canção ao ouvir a faixa no rádio e ligar os pontos. Pois é!
Em entrevista recente ao canal Go With Elmo, o baterista contou um pouco sobre sua colaboração com o Daft Punk. “Eu nunca ouvi a música Get Lucky no estúdio. Na verdade, eu nunca ouvi nenhuma daquelas músicas,” Omar explica.
Ao lado do baixista James Genus, ele participou de sessões criadas pela dupla francesa com um formato pouco ortodoxo: os músicos eram convidados a improvisar grooves e loops sobre pequenos trechos melódicos, sem saber como ou onde aquilo seria utilizado. Ele conta:
Eu estava lá tocando grooves e loops, apenas improvisando com um clique. Thomas, o mais alto dos dois robôs, tinha um setup de teclado no estúdio. O Guy tinha seu setup de DJ. E o Thomas mostrava riffs de dois, quatro compassos. Então, eu e o James Genus entrávamos e improvisávamos sobre aquele riff por 15 ou 20 minutos, e eles apenas deixavam rolar. Fazíamos meia dúzia desses por dia – ou mais.
Ao observar o que estava sendo feito na sala de controle, Omar percebeu que a dupla mantinha um registro rigoroso do que estava sendo captado: “Notei que estavam registrando tudo com base em BPM, tom e uma descrição do groove. E percebi que eles estavam criando uma biblioteca de loops livres de licença para uso próprio (risos). Trabalho sob encomenda. Era como um kit de construção de discos.”
A genialidade, segundo ele, estava na montagem posterior:
Com esse conteúdo original, eles podiam dizer ‘ok, esse é em F e tem 115 BPM, vamos usar esse’. Ou então, se tivermos outro feito com o Nathan East e o JR Robinson na mesma tonalidade e mesmo BPM, podemos colocar isso junto com a bateria do Omar. A genialidade do que eles fizeram foi que, depois de tudo, construíram essas músicas em camadas.
Como exemplo, ele cita a faixa “Giorgio by Moroder”: “Essa tem eu e o JR no disco. Mas ele gravou três meses antes, em outro estúdio completamente diferente.”
Colaboração “surpresa” com o Daft Punk
Mas como ele descobriu que fazia parte de “Get Lucky”? A resposta é quase cinematográfica.
A primeira vez que ouvi ‘Get Lucky’, eu e minha esposa Rachel estávamos dirigindo, acho que tocou no rádio. Ela, sendo musicista, falou: ‘uau, esse ritmo de hi-hat soa como você’. Eu não sabia que o Pharrell tinha cantado, nem que o Niall [Rodgers] tinha tocado. Eu não sabia de nada.
Então estou ouvindo aquilo: ‘I’m up all night to get lucky’. Tem uma levada gostosa. Estou escutando e pensando: ‘ok, tem uma boa pegada’. Aí ouço o Niall, e pensei: ‘isso é definitivamente o Niall’. E o lance do hi-hat… eu pensei: ‘sim, isso soa como algo que eu faria’. Então o DJ entra depois e diz: ‘essa foi a nova do Daft Punk’. E eu pensei: isso sou eu!
O momento foi tão marcante que, pouco depois, ele foi convidado para tocar a música ao vivo na cerimônia do Grammy.
Eles me chamaram para tocar no Grammy. Com todo aquele cenário recriando o estúdio e tudo mais. Como se tivéssemos gravado juntos, no mesmo estúdio, o que não aconteceu. Aquela foi a única vez em que estivemos num ‘estúdio’ juntos – e era um estúdio falso. A mágica da produção musical.
Mais do que uma curiosidade de bastidores, a história de Omar Hakim revela uma faceta fascinante do processo criativo do Daft Punk.
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Stephanie Hahne
O dia em que um lendário baterista descobriu que gravou “Get Lucky”, do Daft Punk