Resenha: “moisturizer” e a originalidade sexy, confiante e divertida do Wet Leg

Foto por Alice Backham

Desde o impacto estrondoso de Wet Leg (álbum autointitulado lançado em 2022), a banda da Ilha de Wight vem elevando seu jogo. Nessa sexta-feira (11), Rhian Teasdale e Hester Chambers retornaram mais fortes do que nunca no novo carro-chefe do Wet Leg: moisturizer.

Se o álbum de estreia da dupla já havia mostrado um talento indiscutível para a irreverência e o humor ácido, moisturizer expande esses elementos, trazendo uma sonoridade mais coesa, confiante e até mesmo mais sensual, sem perder o toque de diversão que conquistou fãs ao redor do mundo.

Após seu pós-punk acessível e cheio de pegadinhas, moisturizer surge como uma reintrodução de Wet Leg enquanto uma banda completa, com a adição de Josh Mobaraki (guitarra), Ellis Durand (baixo) e Henry Holmes (bateria). O álbum foi escrito em conjunto com todos os membros, algo que já transparece de imediato no som mais coeso e plural que o novo trabalho oferece.

Se o disco anterior se destacava por ser um amálgama de canções curtas e cativantes, com influências do pós-punk e do indie, moisturizer vai além, apresentando uma sonoridade mais trabalhada, explorando camadas de guitarras, sintetizadores e ritmos dançantes, com arranjos mais experimentais e uma presença ainda maior dos elementos do rock alternativo e do pop.

Com uma apresentação efervescente no Tiny Desk antecipando o disco, nós finalmente ouvimos o trabalho e contamos tudo sobre para vocês. Vamos nessa?

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Da crítica ao romance: a mudança na abordagem lírica

A banda decidiu gravar o novo projeto durante um período de descanso das turnês, em um Airbnb ao leste da Inglaterra, o que os permitiu se reconectarem com um lado mais introspectivo e a inspiração que o ambiente e o tempo livre proporcionassem.

Nesse intervalo, houve também uma importante mudança pessoal para Teasdale, que passou a se identificar com uma nova orientação sexual, entrando em seu primeiro relacionamento queer. Essa nova fase de sua vida reflete diretamente nas letras de moisturizer, que, apesar de não fazerem referência explícita ao gênero ou à sexualidade, trazem uma nova abordagem ao amor e à autodescoberta – com um olhar mais suave, mas igualmente irreverente.

O álbum abre com a feroz “CPR”, uma faixa que mistura guitarras distorcidas com elementos eletrônicos, criando uma atmosfera quase caótica, mas que rapidamente se transforma em um dos momentos mais empolgantes do disco. Em sua letra, Teasdale questiona se o que sente é amor ou apenas um impulso impulsivo, algo que se tornaria um tema recorrente em moisturizer: a ideia de que o amor pode ser avassalador, mas também perfeitamente natural, mesmo que nos faça tomar decisões impulsivas. A música é uma explosão de sentimentos conflitantes, mas a maneira como a faixa se constrói e explode em uma confissão crua de amor oferece uma sensação de catarse para o ouvinte.

No entanto, é em faixas como catch these fists – dando sequência- que Wet Leg realmente se mostra ousada e irreverente. A música já começa com um riff reverberando a energia punk de outrora, com a adição de batidas dançantes e uma letra afiada. Man down! Level up” é como Teasdale celebra sua vitória sobre os homens desagradáveis que, como em “catch these fists”, são descartados sem piedade. A canção não apenas dá uma ideia do poder de Teasdale como letrista e intérprete, mas também confirma a transição da banda para um território mais empoderado e autossuficiente. 

“mangetout” é outro exemplo dessa confiança, onde a voz de Teasdale soa leve, quase desinteressada, como se ela estivesse desprezando qualquer um que tente ocupar seu espaço. “You’re washed up, irrelevant, and standing in my light”, ela canta de maneira indiferente, deixando claro que agora ela está no controle.

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Introspecção e vulnerabilidade

Mas, moisturizer não se limita à crítica ou à ironia. O que realmente marca a diferença no projeto é a maneira como a banda explora a sexualidade de maneira divertida, mas também profundamente pessoal.

“pillow talk” é um exemplo perfeito desse olhar sem filtros sobre o desejo e a atração – a faixa é um jogo de palavras carregado de metáforas e referências sensuais, mas que ao mesmo tempo escapa do clichê, mergulhando em uma atmosfera de pura diversão e irreverência. “I can make you beg, can make you wet like an aquarium”, diz Teasdale, uma linha que, se absurda por si só, exala uma confiança irresistível.

Se as faixas mencionadas demonstram a energia e a ousadia de Wet Leg, o álbum também tem seu lado introspectivo e mais suave. “davina mccall”, por exemplo, é uma das faixas mais delicadas do disco. Teasdale, em sua voz suave e etérea, canta com devoção: “I’ll be your Shakira, whenever, wherever”, criando uma atmosfera de romantismo leve – mas profundo – sobre um arranjo de guitarra melódico e envolvente.

A canção reflete uma devoção quase ingênua, mas ao mesmo tempo intensa, que combina com o tom doce e melancólico de faixas como “11:21”, que, com sua melodia mais lenta e reflexiva, transmite um sentimento de nostalgia e desejo de estar ao lado de alguém.

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A afirmação definitiva de Wet Leg

Embora moisturizer seja uma obra com momentos de brilho, nem tudo no álbum é perfeito. O uso de clichês e frases previsíveis em algumas faixas tira um pouco do impacto de sua proposta – mas, bom, também vale relembrar que estamos falando sobre Wet Leg.

Dessa maneira, a banda não se limita a repetir a fórmula que deu certo em seu primeiro álbum, escolhendo a expandir e redefinir, mostrando que sua criatividade está longe de se esgotar. 

moisturizer é a afirmação de um grupo em seu auge criativo, equilibrando sensualidade, humor e vulnerabilidade com maestria. Mesmo com alguns momentos que flertam com o esquisito, o disco é uma prova de que Wet Leg não está aqui para agradar – mas para se divertir e nos fazer questionar, dançar e rir enquanto os acompanhamos nessa jornada sonora cheia de energia, confiança e, claro, muito amor.

★★★★

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Eduardo Ferreira

Resenha: “moisturizer” e a originalidade sexy, confiante e divertida do Wet Leg


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