TMDQA! Entrevista: Do Mangue à Memória – Legado, Arte e Resistência com Louise França
O TMDQA! teve o prazer de conversar com Louise França, uma artista que não apenas carrega o legado de um dos maiores ícones da música brasileira, mas que também está, com voz própria, moldando o cenário cultural de hoje. Filha de Chico Science, Louise fez parte do aclamado Projeto Replay, um esforço audiovisual que trouxe uma nova roupagem ao clássico Da Lama ao Caos, um disco que ressoa ainda mais forte em 2025.
No entanto, os holofotes se voltaram para Louise recentemente por outros motivos, à medida que o universo do Manguebeat se encontrou com a efervescência do Carnaval carioca. A decisão da Grande Rio de homenagear o movimento no Carnaval de 2026, em conjunto com uma escolha polêmica para sua rainha de bateria, acendeu debates acalorados sobre autenticidade, representatividade e o verdadeiro espírito do legado que Chico Science deixou.
Nesta entrevista exclusiva, vamos mergulhar na experiência de Louise no Projeto Replay e em como ela se conectou, de forma tão íntima, com a obra de seu pai. Além disso, abordaremos sem rodeios as controvérsias que cercam o Carnaval de 2026, dando a Louise a oportunidade de expressar sua visão sobre a preservação da memória do Manguebeat em meio às novas interpretações e homenagens. Prepare-se para uma conversa profunda sobre arte, identidade e a contínua relevância de um movimento que, mesmo décadas depois, ainda provoca e inspira.
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TMDQA! Entrevista Louise França
TMDQA!: Louise, você cresceu ouvindo e respirando a história do Manguebeat dentro de casa. O que representa para você ver esse movimento cultural, que seu pai ajudou a criar, ainda tão vivo e reverberando 30 anos depois?
Louise: Pra mim representa um resgate da nossa identidade como pernambucanos e como nordestinos também. E como brasileiros, pra quem não é daqui de Pernambuco. Eu era muito criança quando o movimento começou a ganhar notoriedade, mas com o passar do tempo fui entendendo a dimensão daquele momento e a importância dele.
TMDQA!: Você teve um papel duplo e muito especial na nova temporada do Projeto Replay: além de regravar Risoflora, você também atuou como anfitriã dos episódios. Como foi viver isso nos bastidores e diante das câmeras?
Louise: Eu diria triplo – Além dessas duas funções que você citou, tive participação ativa na escolha de alguns artistas. Fiz questão de sugerir nomes daqui de Recife que tinha certeza que somaria muito pro projeto. Ser anfitriã nessa temporada me deu a oportunidade de acompanhar o processo criativo dos convidados e de ter uma troca de histórias e vivências muito bonita ligadas ao meu pai e ao Da Lama.
TMDQA!: O Replay não é só uma homenagem musical, mas também um mergulho audiovisual, com projeções, entrevistas e bastidores. Como foi acompanhar esse formato mais sensorial e multimídia celebrando a memória de Chico Science?
Louise: O Replay é um projeto muito incrível que sabe conectar vários conceitos e setores artísticos à música que está sendo proposta em cada temporada. A equipe toda é mega competente e dedicada, apaixonada mesmo pelo que faz, e isso se reflete na execução de cada detalhe visto no programa. Fiquei muito satisfeita com o resultado.
TMDQA!: Como foi a escolha da música Risoflora? A gente sabe que até houve uma disputa musical divertida com outro artista durante o processo, não é?
Louise: Eu já vinha cantando essa música no Manguefonia, projeto da Nação Zumbi em celebração aos 30 anos do movimento mangue com a participação de vários artistas da cena. Quando sugeriram minha participação em uma faixa, vi que era o momento de registrar minha voz nessa música. É a mais melódica do álbum e que sinto que minha voz se encaixa melhor. Só que [Marcelo] D2 se interessou por ela também e quando soube que eu tinha escolhido, não contestou e escolheu outra.
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TMDQA!: O que mais te surpreendeu nesse reencontro coletivo com o legado do álbum Da Lama ao Caos, dessa vez através da ótica e da sonoridade de tantos artistas da nova geração?
Louise: A entrega e originalidade que cada um colocou na música que escolheu, honrou demais o legado desse álbum. Ninguém tentou imitar nada. Cada um foi muito inteiro e verdadeiro com sua estética, seu trabalho, e não é nem um fator surpresa pra mim, eu diria. Acho que o que mais me surpreendeu foram as performances, sensacionais.
TMDQA!: Nos últimos meses, uma escola de samba anunciou um enredo inspirado no Manguebeat. Isso gerou muita discussão sobre como certas escolhas parecem descolar completamente da essência do movimento. Como você recebeu essa notícia?
Louise: Eu fiquei muito feliz e emocionada porque é um sonho antigo ter o movimento como enredo na Sapucaí. Tenho certeza que vai ser um dia mágico e um desfile nada menos que incrível. É uma história que precisa ser levada pra maior quantidade de pessoas no nosso país porque é a nossa história, e acredito que o carnaval do Rio é um canal muito potente pra apresentar grandes acontecimentos e figuras importantes da nossa memória cultural a muita gente, no Brasil e no mundo. Tudo que eu tinha pra falar sobre essa escolha destoante do tema eu já falei. Tá tudo lá no texto no meu Instagram.
TMDQA!: Você chegou a se manifestar publicamente sobre essa escolha recente. Desde então, sente que sua fala reverberou de alguma forma? Foi ouvida? Houve algum tipo de resposta ou diálogo por parte dos envolvidos?
Louise: Eu só vou até onde o tema me cabe, não tenho poder algum pra mudar decisões da diretoria. Costumo dar importância e me preocupar com coisas e pessoas que realmente importam.
TMDQA!: O que você gostaria que o público brasileiro — especialmente o mais jovem — entendesse sobre o real significado do Manguebeat, para além da estética ou do nome?
Louise: Que somos muito mais ricos em cultura do que imaginamos e que precisamos olhar mais pra dentro do que pra fora. Saber usar com inteligência a nossa brasilidade e conectar isso com outros tipos de linguagem do mundo. Que é preciso respeitar quem construiu a estrada pra que os de agora pudessem caminhar e chegar a sítios antes inexplorados. “Pilotem suas próprias cabeças”, como diz Jorge (Du Peixe). Não esperem que as coisas cheguem mastigadas e prontas pela tela dos seus celulares, escutem música, pesquisem música e todo tipo de arte. Sejam curiosos, conheçam suas raízes. O movimento foi e é algo tão grandioso que a lista de significados pra ele é gigante.
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TMDQA!: Em tempos em que a cultura periférica é muitas vezes consumida sem compromisso com suas raízes, como você enxerga o papel de projetos como o Replay em manter viva a memória com respeito e autenticidade?
Louise: Só por existir, projetos como o Replay exerce um papel super importante pra manutenção da memória musical brasileira. O Da Lama conversa diretamente com a periferia porque é de lá que o movimento vem. Espero que muitos outros álbuns e artistas periféricos sejam homenageados nas próximas temporadas.
TMDQA!: Você, como artista e como filha, sente vontade de expandir ainda mais seu trabalho com o legado do seu pai, talvez através de um projeto autoral ou curadoria cultural?
Louise: Eu tô em estúdio, gravando um álbum autoral pro ano que vem, mas nada ligado ao meu pai. Nesse primeiro momento prefiro me distanciar dele, musicalmente falando. Tô em um processo de buscar minha própria identidade como artista, minhas referências. Tenho cuidado do legado dele com os projetos do acervo e com as homenagens que surgem.
TMDQA!: Se você pudesse hoje conversar com Chico Science sobre tudo isso que tem vivido — os projetos, os conflitos, os reconhecimentos — o que você acha que ele diria? E o que você diria a ele?
Louise: Com certeza ele diria pra eu não ter medo de ser quem eu sou e de bancar minhas próprias ideias. E eu obedeceria sem pestanejar. Tenho feito isso agora, na verdade.
TMDQA!: Louise, obrigado demais pelo papo e pela oportunidade. Essa troca foi incrível. Até breve!
Louise: Obrigada você. Foi um enorme prazer!
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Eduardo Ferreira
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