Segredos do Cinema | Por que gostamos de filmes perturbadores?

Longlegs (Foto: Reprodução)

Praticamente todo mundo já passou por um filme de terror que ficou martelando na cabeça depois que os créditos subiram. Não é sobre o susto de monstro que pulou de cima do armário, mas o desconforto que permaneceu no dia seguinte, aquela inquietação só de lembrar. E aí vem a pergunta: por que a gente assiste a esse tipo de coisa por vontade própria?

A resposta não é tão simples quanto “gostar de terror”. Na verdade, a ciência já tentou explicar – e conseguiu algumas pistas bem interessantes – sobre o que torna um filme verdadeiramente assustador. Spoiler: envolve seu cérebro, sua personalidade e até seu histórico emocional.

Como o cérebro reage a filmes perturbadores?

Quando você assiste a um filme de terror, seu corpo age como se estivesse em perigo real. Os sintomas são os mesmos, como coração acelerado, respiração curta e músculos tensionados. O pacote completo da adrenalina. Mas sabe o que também aparece ali, discretamente? A dopamina, o mesmo neurotransmissor liberado quando você ouve uma música que ama ou come algo gostoso.

É o tal “medo controlado”, pois seu cérebro entende que você está seguro e essa mistura entre tensão e prazer vira entretenimento. É como uma montanha-russa emocional: dá frio na barriga, mas, no fim, você acha legal.

Não é para todo mundo – e tá tudo bem

Alguns estudos, publicados em veículos como o site Verywell Health e a revista científica Frontiers in Psychology, mostram que quem gosta de filmes perturbadores costuma ter um traço de personalidade chamado sensation seeking – em bom português, gente que busca experiências intensas e fora do comum. Já quem tem empatia como principal característica pode sentir um desconforto real com violência gráfica ou temas densos.

Por isso filmes gore como Martyrs (França, 2008) e Strange Circus (Japão, 2005) são “assistíveis” para uns e tortura psicológica para outros. É literalmente sobre como seu cérebro processa toda aquela violência.

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cena do filme martyrs
Martyrs, filme de 2008 (Foto: Reprodução)

Vazio que incomoda

Um filme verdadeiramente perturbador raramente é direto. Não é só sangue ou gritos que vão fazer uma cena se tornar inesquecível, mas sim o que não é dito. É aquele plano que dura mais do que devia, ou um trecho silencioso demais.

O vazio de Skinamarink (2022) é um ótimo exemplo, pois constrói uma atmosfera tensa antes de qualquer outra coisa. Nosso cérebro tenta preencher os espaços em branco e se dá mal, porque não tem resposta pronta.

Filmes assim não incomodam pelo que mostram, mas pelo que insinuam.

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cena do filme skinamarink
Skinamarink (Foto: Reprodução)

Catarse ou masoquismo?

Tem quem ache que assistir a esse tipo de filme é sofrer à toa. Outros dizem que é quase terapêutico, mas a verdade é que os dois lados têm razão.

Alguns psicólogos defendem que o terror permite uma espécie de catarse simbólica. Você assiste à dor, ao luto e à perda, mas no lugar de outra pessoa, levando o cérebro a assimilar aquilo como aprendizado emocional. Você encara os medos em um ambiente controlado, como se fosse um ensaio para a vida real.

Além disso, em Hereditário (2018), Longlegs (2024), O Mal que nos Habita (2023), Boa Noite, Mamãe (2014) e tantos outros, o horror é só o caminho. O destino é a reflexão.

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cartaz do filme o mal que nos habita
O Mal Que Nos Habita, filme argentino de 2023 (Foto: Reprodução)

Afinal: o que faz um filme ser perturbador?

O que faz um bom filme de terror definitivamente não é a quantidade de jump scares nem o volume dos gritos. É o clima que se forma antes e o silêncio que o segue. É quando você assiste e, dias depois, ainda está pensando naquilo.

E o pior? O mais perturbador de tudo talvez seja perceber que você gostou da sensação e já está procurando o próximo filme para assistir.

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Filipe Rodrigues

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