A diversidade transforma o mercado musical

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Por Malka Julieta, produtora, cantora e compositora

A música sempre foi um reflexo da sociedade, seja representando nossas alegrias, dores ou transformações. No complexo universo do mercado musical, a forma como as questões de gênero e as diversas identidades são tratadas tem sido um ponto de constante evolução. Se antes a inclusão era um conceito distante, hoje, ela é cada vez mais presente.

Não apenas pela representatividade desse público, que é enorme, visto que cerca de 70% dos brasileiros dizem conhecer alguém próximo que se identifica como lésbica, gay ou homossexual, de acordo com a pesquisa da Ipsos, LGBT+ Pride 2024, feita em 26 países.

Entretanto, também impulsionada em grande parte por outra força inegável: o reconhecimento do poder de consumo do público LGBTQIA+. No Brasil, o movimento foi de R$ 18,7 bilhões em 2024, segundo a NIQ. Cifras que indicam um público que busca se ver representado e valorizado, e é essa demanda que o mercado como um todo e a indústria musical.

Mesmo com público e vendas de ingressos comprovadas, as oportunidades no cenário musical para artistas LGBTQIA+ e mulheres, muitas vezes, são forjadas pelas próprias comunidades. O reconhecimento ainda é um caminho em construção, que precisa ser impulsionado com uma criatividade extra pela necessidade de ir além do esperado. Os resultados, porém, são favoráveis com sonoridades arrojadas, estéticas inovadoras e uma qualidade musical frequentemente surpreendente.

Um mercado verdadeiramente acolhedor é aquele em que a arte é tratada de igual para igual, sem a ideia de que a inclusão é um “favor”. Artistas como Liniker são um exemplo dessa capacidade de quebrar fronteiras, levando sua música para um público amplo e diverso, muito além do espaço originalmente voltado para pessoas LGBTQIA+.

As segmentações no mundo da música, embora aparentemente inclusivas, podem limitar a visibilidade real. A concentração de destaque aos artistas apenas no “Mês do Orgulho LGBTQIA+” ou de playlists específicas de “gênero e identidade”, por exemplo, criadas para promover a inclusão acabam virando ferramentas de segregação, limitando a presença desses artistas a espaços específicos. Como incluir uma cantora trans na playlist LGBTQIA+, ao invés de playlist de MPB, mesmo que sua sonoridade seja essa.

Os feats podem ser um caminho para romper essas barreiras, mas mesmo assim estamos pavimentando esse caminho. Pabllo Vittar é um nome forte nesse sentido, conhecido pelos seus feats, mas apesar de seus feitos, seu som pode abarcar tantos outros nichos. Existe uma necessidade que o mercado veja artistas LGBTQIA+ apenas como artistas.

A presença de artistas LGBTQIA+ em espaços mainstream não deve ser considerada estranha, pois há no trabalho a qualidade e criação da música para todo o público. Minha própria jornada como artista, multi-instrumentista e produtora musical é um reflexo desse movimento, com experiências que vão do punk-rock às orquestras, aprendendo a transitar por diversos universos sonoros. 

Há apenas oito anos fui a primeira musicista trans a tocar na Sala São Paulo, em 2018, um feito que abre portas, com certeza, mas que também mostra a necessidade da gente mudar essa forma de ver os artistas LGBTQIA+ pelo seu talento e não pela lente da identidade de gênero ou orientação sexual.

A arte é fluida, pode transitar do piseiro ao MPB, da música eletrônica ao funk e o rap. Essa quebra de gêneros não é apenas na identidade, mas na própria música. Apesar do processo de evolução que já nos trouxe até aqui, alguns desafios ainda persistem, mas a mensagem é clara: a mudança é possível e está acontecendo.

A melodia da diversidade se faz ouvir e, a cada nota, a cada batida, estamos construindo um mercado musical mais inclusivo, equitativo e, acima de tudo, que celebra a arte em sua forma mais pura e livre.

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