Ajuliacosta venceu, e com ela uma nova era do rap brasileiro
Ajuliacosta não venceu sozinha. Ao erguer o troféu de Melhor Artista Revelação Internacional no BET Awards 2025, a artista paulistana empurrou consigo uma legião de mulheres pretas, periféricas e sonhadoras que têm sido sistematicamente ignoradas pelo rap nacional. O prêmio pode ser individual, mas sua conquista é coletiva — e profundamente simbólica.
Se engana quem pensa que Aju surgiu do nada. Como tantos outros nomes periféricos, ela veio de um corre silencioso, das batalhas de rua em Mogi das Cruzes, da costura com a mãe, da moda como manifesto. Começou a rimar aos 12, criou marca própria aos 17 e pavimentou sua carreira com uma autenticidade rara em tempos de fórmulas repetidas. A artista que hoje brilha em premiações internacionais é fruto de anos de resistência, estudo e potência criativa.
O que Ajuliacosta faz vai além de música. Seu EP Aju, o disco Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva, as rimas afiadas de “Homens Como Você”, o enfrentamento direto a letras machistas como as de “Poetisas no Topo” – tudo isso forma um corpo de obra que não apenas ocupa espaço, mas desafia estruturas. Suas rimas não pedem licença. São punhos cerrados em forma de poesia. Sua estética é também discurso. Ela não apenas canta: ela confronta, denuncia, e, sobretudo, inspira.
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Ajuliacosta é oxigênio…
Uma artista que renova o ar de um rap que há muito se asfixia em padrões masculinos, misóginos e mercadológicos. É raro ver alguém tão jovem rimar com tamanha firmeza e, ao mesmo tempo, carregar um discurso tão maduro, tão necessário. Cada linha parece medida — nunca sobra, nunca falta. Cada faixa é aula. Cada clipe, um recado.
É preciso lembrar que sua vitória na BET se dá no mesmo cenário em que artistas como Duquesa são ignoradas por prêmios nacionais, mesmo com trabalhos aclamados. A indústria brasileira ainda falha em reconhecer suas melhores artistas, muitas vezes preferindo reafirmar seus próprios vícios. O olhar estrangeiro, nesse caso, foi mais justo e mais atento à verdadeira revolução que está acontecendo no Brasil: a das mulheres no rap.
E Ajuliacosta não está sozinha. Ao seu lado estão MC Luanna, Duquesa e tantas outras que formam uma frente criativa, diversa e politicamente potente. Juntas, elas têm feito mais do que música: têm escrito uma nova história. Uma história que não aceita ser silenciada, uma história onde não há espaço para o apagamento feminino.
Com sua voz, estilo e visão, Ajuliacosta aponta para o futuro. Um futuro onde o rap nacional pode, enfim, refletir toda a complexidade e potência de seu povo. Onde meninas pretas da quebrada possam se ver no topo, sem pedir permissão para chegar lá.
E que bom que esse futuro começou agora.
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Felipe Mascari
Ajuliacosta venceu, e com ela uma nova era do rap brasileiro
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