Caixa Cultural de São Paulo recebe a segunda edição do Festival Papo de Música em Setembro 

Foto: Divulgação/Reprodução

Normalmente, quando falamos de festivais de música, pensamos nos palcos, nos artistas, na energia do show. Mas e se o show for a conversa, o debate, a troca de ideias sobre a própria música? 

É com essa proposta que o Festival Papo de Música chega na CAIXA Cultural São Paulo nos dias 25 a 28 de Setembro.  Longe dos amplificadores, o evento mergulha no universo do jornalismo musical e no papel fundamental da informação para o Music Business. Aqui, a pauta é a música brasileira desde suas raízes profundas, especialmente as afrobrasileiras, até o impacto do streaming e o trabalho crucial de quem, com palavras, amplifica vozes e histórias. Se você quer entender o som além da melodia, e como o debate constrói a cena, esse é o lugar para se estar.

Para falar um pouco mais sobre o festival, convidamos sua idealizadora e também criadora do canal Papo de Música, Fabiane Pereira. Confira abaixo nosso papo e mais informações sobre o festival. 

TMDQA! Entrevista Fabiane Pereira, do Papo de Música

TMDQA!: O Papo de Música é um festival ‘SOBRE música’, e não um evento musical tradicional. Em um cenário onde a produção e o consumo de música são massivos, qual a importância de um festival dedicado exclusivamente ao debate e ao jornalismo musical? Qual lacuna ele preenche?

Fabi: O Papo de Música nasceu da vontade de aprofundar a conversa sobre a música brasileira, porque nem sempre temos espaço — e tempo — para refletir sobre ela de forma crítica e sensível. Vivemos um momento de produção massiva, em que a música é consumida rapidamente, na maioria das vezes como um produto descartável. O festival vem justamente para desacelerar esse processo e valorizar a escuta, o contexto, a história e os bastidores. É um festival que promove o encontro dos profissionais do ecossistema da música. 

É um festival sobre música, e não apenas de música, porque o foco está no debate, no jornalismo cultural, no diálogo entre artistas, jornalistas e público. Preenche uma lacuna importante ao criar um ambiente de troca qualificada, onde se fala não só do que está nas paradas, mas também de legado, de processos criativos, de desafios do mercado e de perspectivas para o futuro. É um espaço para entender a música como cultura, memória e potência de transformação social. Em tempos de inteligência artificial e de proliferação de Chat GPT, quero promover o que nenhuma tecnologia consegue: a arte do encontro, do olho no olho, da escuta atenta. Mas sobretudo, quero promover os verdadeiros comunicadores/jornalistas, aqueles profissionais que entendem que são prestadores de serviço. 

TMDQA!: De que forma o festival pretende capacitar ou inspirar esses profissionais, e qual o impacto esperado para a própria crítica musical no Brasil? 

Fabi: O Papo de Música (o canal que eu criei no Youtube em 2018) sempre teve como missão criar pontes. O festival é um desdobramento disso que está na segunda edição e quero ampliar essa ideia oferecendo espaços de reflexão, aprendizado e troca para jornalistas (meus colegas de profissão), produtores de conteúdo, radialistas e comunicadores que vivem — fazem e promovem — música no dia a dia.

Quando reunimos profissionais experientes e novos talentos em mesas, painéis e oficinas, o objetivo é capacitar sim, mas sobretudo inspirar: mostrar que o jornalismo musical pode ser plural, crítico e inovador, mesmo diante dos desafios do mercado e da velocidade com que a música é consumida hoje.

Acredito que o impacto disso vai além do festival. Quero contribuir para uma crítica musical mais consistente, responsável e criativa no Brasil, que dialogue com o público, que registre este momento tão potente da nossa música e que ajude a construir memória para as próximas gerações. 

TMDQA!: A citação de Letieres Leite ‘Toda música brasileira é afrobrasileira’ é o ponto de partida para essa edição. Como o festival abordará essa perspectiva nas diversas atividades (rodas de conversa, podcasts, slams, workshops), e o que se espera que o público absorva dessa abordagem tão fundamental?

Fabi:  A frase do Letieres Leite — ‘Toda música brasileira é afrobrasileira’ — não é só um ponto de partida para essa edição do Festival Papo de Música, é um norte curatorial para tudo que faço. Ela nos lembra que, independentemente do gênero, do ritmo ou da época, nossas raízes africanas estão na base de tudo que cantamos, tocamos e dançamos.

Por isso, essa perspectiva estará presente em todas as atividades do festival: nas rodas de conversa, quando discutimos memória e protagonismo; nos podcasts, que aprofundam histórias e bastidores; nas oficinas, que celebram a potência da palavra falada; e nos workshops, que dão ferramentas para que novos profissionais e criadores possam se conectar com essa ancestralidade de forma prática e consciente.

A ideia é que o público saia do festival não só informado, mas transformado, com uma escuta mais atenta e um olhar mais crítico sobre como a música brasileira é, e sempre será, um espelho da nossa herança afrobrasileira. Gostaria que as pessoas entendessem que reconhecer essa base é também um ato de respeito, de valorização e de preservação da nossa cultura.

TMDQA!: O painel de abertura abordará a relação entre mídias tradicionais e o alcance de artistas no streaming. Quais os principais desafios e oportunidades para o marketing e a promoção de artistas dentro desse novo ecossistema, considerando a perspectiva do jornalismo musical?

Fabi: Hoje, o artista vive em um ecossistema complexo, onde rádio, TV, plataformas de streaming e redes sociais coexistem — cada um com sua lógica e seu alcance. O maior desafio, na minha visão, é construir pontes reais entre esses universos, porque não adianta ter milhões de plays se o público não cria um vínculo com aquela música ou aquele artista. Eu sou cria das mídias tradicionais, trabalho em rádio e em TV e acredito muitíssimo no potencial dessas mídias mesmo na era digital. Principalmente porque moro num país continental com inúmeras desigualdades.

Do ponto de vista do jornalismo musical, o nosso papel é ajudar a contextualizar, aprofundar, contar histórias que humanizem esses números. Ao mesmo tempo, existe uma grande oportunidade de diálogo: as mídias tradicionais ainda são fundamentais para legitimar carreiras e para formar público, enquanto o streaming abre espaço para a descoberta e para a democratização da música.

O Festival Papo de Música quer justamente provocar essa reflexão: como alinhar a força das narrativas jornalísticas à potência dos dados digitais, para que a promoção de artistas seja mais estratégica, consistente e, acima de tudo, sensível à nossa realidade cultural.

TMDQA!: A CAIXA Cultural São Paulo sedia o evento. Como essa parceria estratégica contribui para a missão do festival e para o acesso do público a discussões tão relevantes sobre a cultura? 

Fabi: Para mim, é muito simbólico realizar o Festival Papo de Música na CAIXA Cultural São Paulo este ano. A 1a edição do evento foi itinerante e ocorreu na CAIXA Cultural Rio, Recife e Curitiba. Mas esta 2a edição precisava ser em São Paulo que é uma cidade que se tornou fundamental – em muitos sentidos – para a música contemporânea. Essa parceria com a CAIXA amplia a nossa missão de democratizar o acesso a debates qualificados sobre música, cultura e jornalismo. A entrada é gratuita e só com o apoio financeiro da CAIXA Cultural isso é viável. 

A CAIXA é um espaço que respira cultura e que se conecta com públicos diversos, de diferentes idades e formações. Estar aqui nos permite aproximar o festival das pessoas, oferecendo acesso gratuito a rodas de conversa, oficinas, slams e experiências que ajudam a compreender melhor a potência da música brasileira.

TMDQA!: Para finalizar, qual o legado que você espera que esse festival deixe para a música brasileira e para o público? Há planos para futuras edições ou para expandir esse formato para outras praças?

Fabi: O maior legado que quero deixar com o Festival Papo de Música é o de fortalecer o diálogo sobre a música brasileira, oferecendo um espaço de escuta atenta, crítica e plural. Queremos que artistas, jornalistas e público saiam daqui com novas perspectivas — entendendo a música não só como entretenimento, mas como memória, cultura e potência de transformação social.

Também sonhamos que esse festival inspire novos projetos, pesquisas e conexões, e que reforce a importância do jornalismo musical num mercado cada vez mais veloz. Somos parte fundamental do ecossistema da música e meu desejo é que a industria entenda isso. Ela ainda nos vê como profissionais à parte desta engrenagem. Além disso, também desejo que as novas gerações de jornalistas culturais tenham mais visibilidade que a minha geração. Somos o “patinho feio” do jornalismo. O jornalismo cultural não tem prestígio em nenhuma premiação, não é valorizado. Somos visto como “menores” dentro da profissão e isso me incomoda profundamente. Então meu desejo é que a nova geração seja mais valorizada entre a própria classe. 

E sim, tenho planos de futuras edições e de levar esse formato para outras cidades, porque acredito que esse tipo de encontro precisa circular. A música brasileira é gigante e diversa demais para caber em um único palco, em uma única praça. Esse é só o começo de um movimento maior que queremos construir juntos.

Festival Papo de Música – Serviço

Datas: 25 a 28 de setembro de 2025 (quinta a domingo)

Local: Grande Salão – Caixa Cultural São Paulo

Endereço: CAIXA Cultural São Paulo, Praça da Sé, 111 (próximo à estação Sé do Metrô) – São Paulo / SP 

Horário: Quinta a Domingo das 11h às 18h

Ingressos: gratuitos e distribuídos uma hora antes do início de cada painel, limitado a um ingresso por pessoa.

Duração: 60 minutos por painel 

Classificação: livre

Capacidade: 120 lugares

Informações: (11) 3321-4400 | @valentinacomunicacao l @canalpapodemusica l @caixaculturalsp

Patrocínio: CAIXA e Governo Federal

Acesso para pessoas com deficiência

YouTube: www.youtube.com/papodemusica 

PROGRAMAÇÃO

PRIMEIRO DIA [25 de setembro de 2025 – quinta-feira]

11h às 12h: Como a comunicação propagada pelas mídias tradicionais ajudam a potencializar o alcance dos artistas na era do streaming? 

Mediadora: Roberta Martinelli (apresentadora Cultura Livre/TV Cultura e do Som a Pino/Eldorado)

Participantes: Dedé Teicher (apresentadora do Multishow); Bruno Barros (diretor geral do Sem Censura / TV Brasil); Marcela Maia (Head de estratégia de MKT da Biscoito Fino)

12h10 às 13h10: Artista entrevista Artista com Monica Salmaso e Ayrton Montarroyos 

13h10 às 14h30 [intervalo/almoço]

14h30 às 15h30: Gravação de Podcast 🡪 Marília Feix (Lampeja FM) entrevista Thaíde

15h40 às 16h40: Papo de Música 🡪 Fabiane Pereira entrevista Sergio Britto

16h50 às 17h50: Como o rap nacional foi conquistando espaço e tornou-se um dos gêneros mais ouvidos do momento? 

Mediador: Jairo Malta (jornalista e curador do Museu das Favelas)

Participantes: Bixarte; Stefanie; Don L 

SEGUNDO DIA [26 de setembro de 2025 – sexta-feira]

11h às 12h: Como o jornalismo digital consegue se destacar sem cair nas armadilhas dos algoritmos? 

Mediador: Muka (jornalista / criador de conteúdo / diretor de pauta do Sem Censura / TV Brasil)

Participantes: Foquinha (jornalista, apresentadora e criadora de conteúdo digital); Semayat (coapresentadora do podcast Mano a Mano); Liv Brandão (jornalista especializada em música)

12h10 às 13h10: Como aumentar a representatividade nas programações de rádio e TV?

Mediação: Gui Guedes (apresentador do programa Experimente / Canal Bis e do Multishow)

Participantes: Emanuel Bomfim (diretor artístico da rádio Eldorado) + Gominho (apresentador do programa TVZ / Multishow) + Edu Leite (diretor artístico da rádio Novabrasil e THMais) 

13h10 às 14h30 [intervalo/almoço]

14h40 às 15h40: Artista entrevista Artista com Arthur Nogueira + José Miguel Wisnik 

15h50 às 16h50: Oficina de Criação & Composição com Josyara

16h50 às 17h50: Artista entrevista Artista: DJ Zé Pedro entrevista Tulipa Ruiz

TERCEIRO DIA [27 de setembro de 2025 – sábado]

11h às 12h: Toda música brasileira é afrobrasileira – uma homenagem ao legado de Letieres Leite.

Mediador: Miguel Arcanjo (jornalista e idealizador do Blog do Arcanjo)

Participantes: Evandro Fióti (cantor e compositor); Zé Manoel (pianista, cantor e compositor); Paula Lima (cantora, compositora e diretora-presidenta da UBC)

12h10 às 13h10: Qual a importância do jornalismo no combate das fakenews?

Mediadora: Cynthia Martins (jornalista e apresentadora da TV Band)

Convidadas: Michelle Trombelli (jornalista BANDNEWS); Lígia Rosa (editora da Revista Billboard); Laís Franklin (editora chefe da Bravo); 

13h10 às 14h30 [intervalo/almoço]

14h30 às 15h30: Letra & Música: biografias & cinebiografias de artistas que fizeram a música brasileira se tornar o que é, inclassificável. 

Mediadora: Adriana Ferreira (jornalista e colunista do NEXO)

Convidadas: Taíssa Maia (autora do livro “A todo vapor: o tropicalismo segundo Gal Costa); Márcio Debelian (diretor dos documentários “Palavra (En)Cantada” e “Fevereiros”); Roberta Martinelli (autora do livro “Em Noite de Climão”)

15h40 às 16h40: Papo de Música: Fabiane Pereira entrevista Johnny Hooker

16h50 às 17h50: Artista entrevista Artista com Tássia Reis e Anelis Assumpção 

QUARTO DIA [28 de setembro de 2025 – domingo]

11h às 12h: Gravação do podcast “VAMOS FALAR SOBRE MÚSICA?” com Candy Mel

12h às 13h: Mídia e música: como a crítica, os podcasts e as redes sociais moldam a escuta

Mediação: Fabiana Ferraz

Participantes:  Gabriela Rassy (TOCA UOL); Augusto Diniz (Carta Capital) + Isabela Yu (Noize)

13h10 às 14h30 [intervalo/almoço]

14h30 às 15h30: Artista entrevista Artista: Ana Frango Elétrico e Sophia Chablau

15h40 às 16h40: Eixo X Fora do Eixo 

Mediadora: Fernanda Alves (Natura Musical)

Participantes: Pérola Brás (curadoria do SESC SP) + Melina (PORTO MUSICAL / Recife) + Michelly Mury (Curadora musical)

16h50 às 17h50: Encerramento/Confraternização com o projeto Mahmundi FM 

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Nina Shimazumi

Caixa Cultural de São Paulo recebe a segunda edição do Festival Papo de Música em Setembro 


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