Como construir uma carreira artística longeva?

Por Victor Senedesi, responsável pelo agenciamento e representação de BK´ e Luccas Carlos

O universo da música é repleto de sonhos e promessas, mas por trás dos palcos iluminados e dos refrães inesquecíveis existe uma série de questões complexas, especialmente quando o assunto é gestão de carreira. Muito além de agendar shows ou negociar contratos, gerenciar uma carreira artística é sobre construir um legado, e isso exige uma sintonia fina entre todos os envolvidos.

Esse alinhamento de expectativas é o principal desafio, e muitas vezes a raiz de grandes frustrações. É um erro fundamental o artista enxergar o manager como um mero funcionário ou o agente tratar o artista como um produto, quando na verdade, trata-se de sociedade, e como em qualquer empresa, se os sócios não compartilham a mesma meta, o negócio – neste caso, a carreira – não prospera. 

Vivemos um momento ímpar, pois, pela primeira vez, o mercado fonográfico brasileiro ultrapassou mais de R$3 bilhões em faturamento em 2024, segundo o relatório anual Mercado Brasileiro de Música da Pro-Música. Além disso, o Brasil ocupa a 9ᵃ posição global no ranking da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), evidenciando a força e relevância do setor musical brasileiro no cenário internacional. 

Diante desse cenário, muitos artistas entram no mercado, mas enfrentam dificuldades significativas para alcançar o sucesso e sustentá-lo a longo prazo. Então, como é possível fazer o artista assessorado crescer?

A música não é uma ciência exata

Não existe uma fórmula única para o sucesso, porque a gestão de carreira não é uma ciência exata. Entretanto, indo além do talento do artista, existem algumas habilidades de gestão que são essenciais para prosperar, como a capacidade de nutrir conexões genuínas e, particularmente, acredito que ser um estudioso constante do mercado e das inovações seja o grande diferencial, uma vez que nada substitui o trabalho árduo e a dedicação. 

Lembro bem do começo do trabalho com o BK’, quando falei para ele: “só posso te prometer que vou acordar e dormir pensando em você e trabalhando no seu sucesso”. É o famoso “arregaçar as mangas” e, especialmente em um mercado tão dinâmico como o nosso, é preciso fazer acontecer e ter disponibilidade para oportunidades.

Esse empenho precisa vir acompanhado de resiliência e capacidade de adaptação. Projetos musicais, especialmente álbuns, têm um tempo de maturação longo, por isso é preciso acreditar e persistir, sem deixar de ajustar a rota quando necessário.

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No início da parceria com BK’, sua capacidade de vender ingressos era um diferencial. Decidimos, então, focar em apresentações impactantes. Apostamos nisso, e o primeiro grande show na Fundição Progresso, mesmo com tudo esgotado, resultou no que seria comumente encarado como prejuízo inicial, mas que vimos como um investimento. 

Queríamos que cada disco lançado gerasse expectativa pela experiência ao vivo. Acreditamos juntos nessa estratégia, e o resultado é que hoje o público aguarda ansiosamente pelos shows de BK’, consumindo seus discos já com a performance em mente.

Como construir uma carreira artística longeva no Brasil?

É essa visão de longo prazo que sustenta o trabalho do manager e que implica em decisões assertivas, e muitas vezes difíceis, para cada realidade. Acredito em carreiras longevas, nas quais o artista continua relevante e produtivo aos 70, 80 anos. Contudo, isso significa não “queimar” o artista com superexposição ou buscar ganhos rápidos que comprometam o futuro.

Gerenciar uma carreira artística é uma jornada complexa, mas recompensadora. Com alinhamento, dedicação, visão e parceria, é possível não apenas alcançar o sucesso, mas também construir um legado duradouro.

E para os artistas que estão começando essa jornada, algumas lições podem servir como um norte: a primeira, e talvez a mais pragmática, é a importância de entender cada linha dos seus contratos, buscando sempre apoio jurídico para proteger sua arte e seu futuro.

Em paralelo, formem uma equipe que vibre na mesma intensidade e paixão, pois a criação artística necessita de espaço e foco. Por fim, não desistam do seu trabalho: a carreira sólida se constrói com resiliência, consistência e tempo, não com a efemeridade de um viral.

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