Cor dos Olhos lança seu disco de estreia e celebra momento de “libertação artística”

Ex-integrantes do Selvagens à Procura de Lei conversam com o TMDQA! sobre os bastidores do seu primeiro disco
Créditos: For All Studios

A banda Cor dos Olhos disponibilizou recentemente seu disco de estreia homônimo, consolidando anos de parceria entre Caio Evangelista, Rafael Martins e Nicholas Magalhães e provando que a sintonia entre eles foi um dos pontos-chave para o resultado obtido.

Os ex-integrantes da Selvagens à Procura de Lei conversaram com o TMDQA! sobre como foi o recomeço com a nova banda após passarem mais de dez anos no antigo grupo e compartilharam alguns detalhes sobre os bastidores do álbum, que foi antecipado pelo EPs Cor dos Olhos – Pt. 1 e Cor dos Olhos – Pt. 2, enquanto celebram o momento de “libertação artística”.

O grupo cearense ainda revelou as principais influências que, de alguma forma, serviram de inspiração tanto para a forma de compor e tocar como para a sonoridade das novas músicas, que apresentam a identidade roqueira do grupo unida a elementos da MPB, do pop rock internacional alternativo e com o uso de camadas e manipulações eletrônicas.

Após o lançamento do disco, a Cor dos Olhos pegou a estrada e já está apresentando suas novas canções aos fãs, que reúne tanto antigos admiradores dos músicos como ouvintes mais recentes. O grupo, que começou sua turnê em agosto, já tem datas marcadas até outubro, como você pode conferir na agenda ao final da matéria.

A seguir, leia o papo na íntegra com os integrantes da Cor dos Olhos e ouça o disco de estreia da banda!

TMDQA! Entrevista Cor dos Olhos

TMDQA!: Da última vez que a gente conversou, vocês falaram sobre como a afinidade musical entre vocês ajudava a acelerar o processo de criação das novas músicas. De que forma essa sintonia influenciou nos arranjos e nas decisões criativas durante a produção do disco?

Caio: Eu acho que, de certa forma, é uma mistura de duas coisas. Acho que é uma questão que leva a uma identidade sonora, a uma identidade musical. Como isso já vem de um tempo, então é natural. A gente confia no trabalho, no modo como eu vou tocar as músicas, como a galera vai interpretar nos seus instrumentos e também na produção musical, porque a gente mexe muito o dedo, nas composições que eu levo. Primeiro, dessa parte, você tem uma composição e como é que a banda vai interpretar aquilo. Acho que a afinidade, o primeiro ponto, é esse, de já ser algo natural. É difícil chegar uma música de alguém aqui de dentro que pareça um universo muito estranho, até porque a gente também, de certa forma, escuta muitos sons parecidos. Cada um tem sua particularidade, mas vários gostos são os mesmos. Então essa afinidade já pega naturalmente nesse primeiro momento de fazer o repertório pra banda.

Mas eu acho que tem outra questão também, que é onde a gente quer chegar. Acho que, quando a gente pensa no que quer construir agora, tanto pra não ficar se repetindo, mas pra entender o que é a Cor dos Olhos, onde a gente quer posicionar essa banda, qual é o nosso objetivo com ela, que tipo de som e de posicionamento estético queremos levar em todos os aspectos artísticos, além da questão musical, que é a prioridade, mas em tudo que isso permea. Eu acho que essa sintonia está em tudo isso.

Nicholas: Mas sobre a música, o que eu acho mais interessante é que essa sintonia foge da vaidade, foge daquela ideia de “essa é a minha música, vocês vão trabalhar nela”. Não. Eu me sinto muito parte do que o Rafa traz de composição, do que o Caio traz e do que eu também levo, e deles estarem introduzindo ideias. Pelo pluralismo das nossas influências, a gente consegue ir adicionando coisas na música, e o que a música vai pedindo, a gente vai fazendo, às vezes, num método de tentativa e erro, até achar o lugar certo da música. Eu me sinto muito à vontade para chegar numa música do Rafa e dar uma opinião, ou numa música do Caio, e a gente vai se acertando.

Rafael: É isso que eu sinto também. Por a gente ter crescido fazendo música juntos, cada um já sabe quando o outro vai somar, onde ele vai somar e como pode ajudar a evoluir. Por exemplo, dando um pitaco na bateria do Nicolas, ele dando um pitaco na minha guitarra, a gente comentando sobre o baixo do Caio e juntos vendo arranjos vocais. Tudo isso passa pelo fato de termos crescido fazendo música juntos, então nos conhecemos bastante musicalmente.

TMDQA!: E durante o processo dessas novas músicas, teve algo que mais surpreendeu vocês? Alguma coisa que começou de um jeito e terminou saindo melhor do que vocês esperavam?

Nicholas: Acho que todas as músicas surpreenderam.

Rafael: Caramba. Eu ia falar isso. Acho que tudo surpreendeu, porque a gente não sabia nem pra onde ir, assim, de caminho de caminho sonoro, identidade… e fomos nos surpreendendo bastante.

Caio: Mas teve uma que eu lembro, que foi “Canção Para Alguém Ferido”. Quando a gente começou a pensar nela, ela era bem diferente do que acabou se tornando. Quando levamos pra banda, tentamos alguns caminhos, tentando de certa forma desconstruir, o que é um trabalho difícil, porque você pensa que a música é de tal jeito e conseguir se libertar pra procurar outra coisa é difícil. Quando chegamos mais ou menos no que ela ficou, lembro que ensaiamos e pensamos: “Opa, tá aqui, mais ou menos”. Então ela foi uma que achei bem legal.

Nicholas: “Cataventos” também, ela era mais lenta. A gente acabou se inspirando em outras coisas pra puxar.

Rafael: Eu me surpreendi com “Banho de Rosas”, que foi a primeira vez que a gente trabalhou uma parceria com alguém de fora. Primeira vez que tocamos, eu e o Caio não conhecíamos a música. O Nicolas já conhecia e levou pra gente, era um parceiro dele. Quando tocamos juntos pela primeira vez, guitarra, baixo e bateria, eu me surpreendi porque já senti uma liga. Sabe quando tudo se encaixa de forma muito natural? Ali, pra mim, foi uma das primeiras vezes que, tocando em formato de trio, que ficou claro que ia rolar, que Power Trio ia dar certo, funciona, dá liga. E me surpreendi ali porque nunca tinha sentido isso antes, nunca fiz parte de um Power Trio, e a sensação foi diferente. Foi legal.

TMDQA!: E falando um pouco sobre a sonoridade desse primeiro disco, quais foram as principais influências pra esse trabalho?

Rafael: Bom, vou falar o que tenho dito em todas as entrevistas, eu escutei muito o rock argentino El Mató a un Policía Motorizado, Fito Páez, Charly García. E no finalzinho da produção, também entrei na onda do disco novo do Turnstile. Então, basicamente, foi isso que eu ouvi.

Caio: Isso tudo aí que o Rafael falou, ele até levou pra gente. Lembro da gente escutando juntos vários desses sons no carro. Mas vou falar também da galera clássica, que de certa forma moldou o meu jeito de tocar e o jeito da galera tocar também. Levantando a bola dos Power Trios nacionais, temos Os Paralamas do Sucesso. Eu escutei muito quando era moleque, muitos discos deles, e isso me ajudou na forma como penso música. Mas vou levantar a bola do The Police também, que são gringos Power Trio também. Esses clássicos sempre estão presentes no nosso trabalho.

Nicholas: Sobre as minhas influências, acho até complicado, porque não é bem dizer que o que eu estava escutando no momento foi o que me influenciou a fazer aquele tipo de música. Mas uma coisa que sempre me influencia muito, e que acho a cara da gente, é composição. Eu curto muito composição, então, nessa época, eu estava escutando muitos compositores de forró, os mais clássicos mesmo. Também nomes como Dorgival Dantas, que é um super escritor de músicas. E aí você pega Luiz Fidelis, pega Petrúcio Amorim, uma galera do forró que, na verdade, tem músicas antigas que sempre ganham novas versões e você nem sabe de quem é originalmente. Você vai descobrindo que o negócio é antigo e tal. Mas música boa é isso, ela não morre, ela continua se reinventando. Então eu vinha escutando muito forró nessa época.

TMDQA!: Apesar de no material de vocês, terem destacado a frase “Agora que o ano virou, eu não quero mais ser dezembro”, de “Carne Viva”, um trecho que me chamou atenção foi “A gente continua firme porque tem esperança no que vai acontecer”, de “Nuvens Brancas”. O que vocês acreditam que é mais desafiador nessa fase de recomeço?

Caio: Eu diria que talvez uma das questões vai muito de uma aceitação, até para alinhar quais são as expectativas. É entender que o que passou, passou. A gente está em um outro momento, numa nova realidade que, de certa forma, por mais que a gente passe pelos mesmos palcos, a experiência vai ser completamente diferente. Porque agora é outra dinâmica de show, é outra dinâmica de viagem, que é uma parte que a galera não vê tanto, além de toda a parte da produção musical e artística. Então, para mim, é sacar que a gente está vivendo um momento novo. A gente valoriza pra caramba esse momento, porque é muito massa o momento de libertação artística, de botar as músicas no mundo, de gravar clipe, gravar material, de levar pra estrada, conversar com a galera, apertar a mão. É sacar que é um momento novo e que a gente está muito afim de viver bastante isso.

Rafael: Acho que, pra mim, o que tem pegado nesse momento fênix, digamos assim, é que… Uma coisa que eu senti, por exemplo, antes da gente viajar pra São Paulo para fazer os primeiros shows, foi um frio na barriga muito grande de “Será que eu ainda sei fazer isso?”, sabe? Eu já fiz milhares de vezes com o Caio e com o Nicolas, inclusive. Mas naquele momento de voltar a fazer algo que você já fez milhões de vezes, estando parado por um ano, deu um tilt na minha cabeça e eu fiquei um pouco inseguro, fiquei com medo. Na noite anterior, eu fiquei questionando a minha vida inteira. Entrei num vórtex de pensamento muito doido. E depois que rolou o primeiro show, zerou. Essa insegurança passou toda. Então, pra mim, pegou muito mais no começo, na hora de lançar o álbum, na hora de pisar no palco de novo.

E ainda vamos fazer várias coisas de novo pela primeira vez, embora a gente já tenha feito várias vezes, né? Eu espero que a gente toque nos mesmos festivais e em outros. Que a gente faça show na gringa de novo. Acho que tudo isso é o que tem me alimentado a querer conquistar de novo as coisas e retroalimentar esse sentimento de ser artista, que é super difícil no Brasil. Não é fácil, mas, se você não tiver esse gás, essa chama acesa, também não rola.

Nicholas: Sobre a nossa entrega, não é isso que me traz alguma insegurança. O que me traz insegurança é onde o mercado está indo. Nós crescemos numa época em que a gente rodava o país. A internet era protagonista? Talvez, mas não como hoje em dia. A gente rodava o país, existiam muitas casas de shows, o mercado tinha muito mais… Como é que eu posso dizer? Empresas para promover, como tem Tenho Mais Discos, como têm muitas outras fontes de informação. Só que antes havia mais espaço, havia mais ambientes de fala. Hoje em dia, eu sinto muito menos. Então, o que a gente está buscando e essa insegurança, imagino que um dia acabe, é o espaço de fala. Porque o que a gente faz não é música de fábrica. A gente não está aqui pra ser TikTok ou algo do tipo. A gente trabalha a música. A música, a gente sabe, que o fundo dela é entrar na vida das pessoas e na narrativa delas. Ou seja, você deixa de ser proprietário dela. O que nos falta, às vezes, é fazer com que essa música chegue ao ouvido das pessoas. Que essa banda apareça, e não que a gente seja um TikTok ou fique opinando um bocado de coisa sem saber na internet só para entrar num bolo de informações e virar tendência, entendeu? Acho que o que a gente mais quer mesmo é trabalhar nossa música.

Caio: E, complementando isso que o Nicolas falou, acho que, de certa forma, ano passado, por ter sido um ano atípico, em que a gente passou uns seis meses mergulhados em questões mais pessoais, foi o período em que ficamos um pouco de fora do mercado, lançando um projeto novo. A gente, por perder alguns acessos, também enxerga alguns vícios que a gente tinha, mas também algumas dificuldades. E, por passar um ano sem fazer turnê, vemos o quanto o mercado muda muito rápido. Hoje, com o digital, se você passar um ano de olho fechado, quando acordar, tudo vai funcionar completamente diferente. Isso é desafiador, mas também é legal, porque aguça a vontade de dominar ferramentas que antes a gente não dominava.

Mas a conexão com o público, a recepção da galera para os nossos shows, o abraço que a gente dá em quem vai ver Cor dos Olhos nos shows… Isso é muito massa. A gente estava com muita saudade de viver isso. Estamos sentindo que quem está indo ver a gente, mesmo com o disco lançado há pouco tempo, já incorporou o repertório à playlist da vida. Isso é muito massa.

Rafael: Ontem mesmo fiquei sabendo que um fã disse que ia tatuar uma frase de uma música nossa. Então, o disco saiu há três semanas e já está rolando essas coisas, que como o Nicolas falou, a música entra na vida das pessoas. A gente sabe que é uma responsabilidade tocar em pontos sensíveis, porque, se a música mexeu, é porque tem algo que mexeu ali. E queremos entregar da melhor forma possível a nossa arte, que é fazer as coisas de uma forma cuidadosa. Antigamente, não tínhamos tantas preocupações, era mais na base da quantidade. “Ah, tem que fazer um bucado de clipe, de música, tudo”. Hoje, estamos mais cautelosos, com uma equipe maior, pessoas somando e fazendo as coisas com maturidade de quem já vem da estrada e que já sabe onde quer chegar também.

TMDQA!: Falando sobre as faixas do disco. Eu sei que não é fácil, mas qual é a canção favorita de cada um de vocês nesse momento e porque?

Nicolas: Já tive “Carne Viva”, “Nuvens Brancas”, “Rouxinol”, “Te Vi”, escutei até arranhar o disco. “A Curva”, ouvi muito quando lançamos o primeiro EP. É covardia, mas vou dizer “Rouxinol”.

Rafael: Caramba, eu acho que a minha é “5 Minutos”.

Caio: Eu vou falar pelo show, que eu tô sentido que é bem o clima tanto do show, mas da recepção da galera com a gente. “Canção Para Alguém Ferido”.

TMDQA!: Pra gente finalizar a entrevista, vou fazer algumas perguntas curtas e diretas e a ideia é que vocês respondam sem pensar muito, tá bom? Vamos lá! Uma palavra que descreve o álbum “Cor dos Olhos?

Caio: Reencontro.
Rafael: Reencontro é uma boa.
Nicholas: Fantástico.

TMDQA!: Qual é o seu álbum favorito de todos os tempos?

Caio: “Abbey Road”, dos Beatles. Nunca consumi tanto um álbum como esse.
Nicholas: “Catch a Fire”, do Bob Marley.
Rafael: “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd.

TMDQA!: Um lugar que você gostaria de conhecer?

Rafael: Austrália.
Caio: Japão.
Nicholas: Jamaica.

TMDQA!: Qual é a música da Cor dos Olhos que você mais gosta de tocar ao vivo?

Caio: “Canção Para Alguém Ferido” .
Rafael: “Cataventos”.
Nicholas: “Cataventos” é muito boa, porque é rock’n’roll, eu também gosto de fazer músicas mais rock’n’roll, a gente dá um gás, eu acho massa.

TMDQA!: E por último, você tem mais discos do que amigos?

Nicholas: Rapaz, eu acho que devo ter igual. Tanto discos quanto amigos, são muitos.
Rafael: Eu tenho mais discos que amigos, com certeza. Amigos são poucos.
Caio: Eu acho que o último ano deixou bem claro isso. Tenho mais discos sim, com certeza.

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Lara Teixeira

Cor dos Olhos lança seu disco de estreia e celebra momento de “libertação artística”


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