Do violão ao palco: a ascensão de Delacruz leva à gravação do primeiro DVD em São Paulo

Antes de ser um dos nomes mais populares da música brasileira contemporânea, Delacruz era só um jovem com um violão nas mãos e a coragem de cantar o que sentia. Foi assim, entre vídeos caseiros publicados nas redes e letras que atravessavam o rap pela melodia, que ele começou a furar a bolha.

De lá pra cá, passou por palcos de todo o país, se tornou rosto do fenômeno “Poesia Acústica”, construiu uma discografia sólida e, agora, se prepara para um dos momentos mais marcantes da carreira: a gravação de seu primeiro DVD, no próximo sábado (9), no Espaço Unimed, em São Paulo.

A apresentação faz parte da turnê do álbum Vinho, lançado em outubro de 2024, um projeto que representa não só uma nova fase musical mas também a maturação de tudo o que Delacruz construiu até aqui. Combinando rap, R&B, neosoul e uma sensibilidade incomum para narrar afetos, o disco trouxe participações de nomes como IZA, MC Cabelinho, Gaab e Lukinhas, além de uma estética visual refinada que agora se expande nos palcos.

“Vinho soa como uma síntese madura”, afirma o artista. “No meu primeiro disco, Nonsense, a emoção tomou conta e eu coloquei informação demais. Agora, consegui colocar a minha essência e a musicalidade com mais harmonia.”

A turnê de Vinho

A turnê do projeto percorreu o Brasil com uma proposta rara em tempos de shows simplificados e lucros acelerados: uma cenografia pensada nos mínimos detalhes, com direção de arte assinada por Carol Agyar.

Tapetes, texturas e luzes transportam o público para dentro do universo do álbum, equilibrando elementos clássicos e contemporâneos. “Eu poderia pegar o violão e cantar meus hits, mas não é isso que eu quero. Sempre tive a preocupação de entregar algo maior, que cause imersão em quem está ouvindo ao vivo”, conta.

Delacruz nunca foi um artista comum. Criado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, ele trouxe para o rap uma herança melódica vinda do samba e uma estética lírica que fugia da dureza do gênero para abraçar o afeto, a vulnerabilidade e o amor. “O rap foi a válvula de escape para que eu falasse sobre as minhas intimidades. E isso sempre foi de verdade, o que permitiu que as pessoas se identificassem.”

Essa verdade também marcou sua participação no Poesia Acústica, projeto que ajudou a popularizar um subgênero mais acessível e romântico do rap. “Quando gravei o “Poesia Acústica 2”, não havia toda essa pressão. Foi uma criação natural, sem vaidade. A versão que foi ao ar nem tinha mixagem, e mesmo assim virou um sucesso. Isso mostra como a música foi sincera desde o início.”

Sucesso inevitável

Na contramão de uma indústria cada vez mais presa ao algoritmo, Delacruz segue acreditando em música feita com intenção. “Não penso em mercado. Faço a música que eu gosto, que me representa. Minhas referências vêm de compositores genuínos como Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Rodriguinho… artistas que sabem falar de amor com verdade.”

A celebração do disco Vinho nos palcos também abre caminho para um novo capítulo: a versão deluxe do álbum, que já está em produção. Com dezenas de músicas criadas ao longo dos dois anos de imersão em estúdio, Delacruz promete expandir ainda mais o universo sonoro e lírico do projeto.

“Tem muita coisa guardada e novas ideias surgiram depois do lançamento”, adianta. A edição estendida deve aprofundar temas já presentes no disco original, ao mesmo tempo em que amplia as experimentações musicais que tornaram Vinho uma das obras mais marcantes de sua trajetória.

Esse amor pela arte e pela entrega faz com que o show do próximo sábado tenha um peso simbólico especial. É o ápice de um ciclo, segundo o rapper. “Estamos fazendo essa turnê dar certo sem ninguém bancando a gente. Tudo foi feito de coração. Agora, quero entregar o melhor show possível. Estou pronto.”

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