Estética Y2K: por que a cultura pop quer voltar para 2003?
Lembra de quando o mundo ainda se impressionava com celulares flip, calças de cintura baixa eram moda e o maior problema de um adolescente era ser excluído do grupinho popular? Pois é, o cinema e a TV também se lembram e estão transformando a saudade desse período em tendência.
Nos últimos anos, várias produções têm resgatado a estética e os códigos narrativos do início dos anos 2000. A nostalgia Y2K (leia-se uai two kêi) virou quase um subgênero próprio e não se limita aos figurinos brilhantes ou às trilhas sonoras cheias de pop-punk – e Hollywood, claro, está capitalizando em cima disso.
Mean Girls com filtro VHS
Filmes como Do Revenge (2022) e Bottoms (2023) não apenas flertam com o visual da época, mas recriam uma atmosfera que remete diretamente à era de ouro das teen comedies. Com personagens exagerados, a escola como palco de guerra social e uma direção de arte carregada de cores saturadas e neon, essas produções mergulham na iconografia de obras como As Patricinhas de Beverly Hills (1995), Meninas Malvadas (2004) e 10 Coisas Que Eu Odeio em Você (1999) – alguns dos maiores símbolos Y2K da cultura pop.
O remake musical de Meninas Malvadas (2024), por exemplo, entra nessa onda com homenagens ao original de 2004, trabalhando essa estética como retrô, uma referência do passado que virou “moderna” de novo.
Séries como Euphoria (em especial na primeira temporada), The Idol (sim, ela tentou) e até XO, Kitty (spin-off de Para Todos os Garotos que Já Amei) também abraçaram esse retorno visual, com looks cheios de miçangas, lentes coloridas e elementos metálicos que parecem saídos da MTV.
Além disso, inúmeros sucessos daquela época estão ganhando derivados, como Sexta-Feira Muito Louca (2003, com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis), que terá uma continuação chamada Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda em 2025; e Legalmente Loira (2001, com Reese Whiterspoon), cujo prelúdio em série Elle também chegará neste ano, com a atriz Lexi Minetree no papel principal.
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O ciclo da moda (e da cultura pop) nunca falha
A explicação mais óbvia para esse comeback tem nome e sobrenome: moda cíclica. Uma tendência que domina determinada cultura costuma voltar com força depois de 20 ou 30 anos, reciclada para um novo público. Foi assim com os anos 1980 nos anos 2000, com os 1990 na década passada, e agora… é a vez de vivermos novamente o que era popular no bug do milênio.
A geração Z, que cresceu vendo seus pais ou irmãos viverem essa época, está reinterpretando o Y2K como uma forma de identidade visual e afetiva. O espírito de resgate está rolando na moda, por exemplo, com a Nike relançando a icônica linha Total 90, símbolo máximo de estilo para quem cresceu jogando bola na rua e acompanhando as Copas do Mundo de 2002 e 2006 com camiseta larga.
Paralelamente, redes sociais como o TikTok e o Instagram foram invadidas por jovens redescobrindo as câmeras digitais portáteis, como as Sony Cybershot, em um movimento que mistura lo-fi e rebeldia contra a falsa perfeição dos filtros atuais. Ok, podemos discutir a lógica por trás de existir uma estética retrô “artificial”, mas não tem como negar que esse é um movimento de resistência à falsa ideia de perfeição que as redes sociais fortaleceram na última década.
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Y2K x digital?
O combate ao “burnout digital” é, inclusive, uma camada interessante por trás do Y2K: retomar o estilo representa o resgate de uma adolescência analógica, ou pelo menos semi-analógica. Aquela era uma época em que a internet ainda era um lugar a ser acessado, e não um anexo do nosso corpo. O “online” ainda não existia em tempo integral e é justamente esse contraste que torna o retorno ao início dos anos 2000 tão atrativo.
Ao revisitar essa estética, filmes e séries parecem propor um refúgio visual e sentimental para se abrigar de um presente hiperconectado, acelerado e saturado de telas. Uma espécie de escapismo, em que até os dramas adolescentes pareciam mais simples e mais bonitos de se ver.
Best of 00’s
Vale lembrar que esse resgate da estética Y2K não é meramente visual. As trilhas sonoras de produções hollywoodianas também fazem questão de lembrar que você está nesse revival: Avril Lavigne e Britney Spears, por exemplo, voltaram a figurar nas playlists de filmes e séries (inclusive é hilária a cena de I’m With You, da Avril, em Deadpool & Wolverine). O TikTok ajudou a amplificar esse retorno, com milhões de vídeos usando sons que parecem ter vindo do Kazaa.
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Resgate estético com consciência
Se o presente anda caótico e as previsões para o futuro não são nada otimistas, talvez faça sentido querer voltar para um tempo em que o maior drama era escolher entre o Chad Michael Murray ou Adam Brody (que, inclusive, também está de volta na série Ninguém Quer, da Netflix).
Mas lembre-se: vivemos em uma sociedade em que tudo vira mercadoria, inclusive a nostalgia. Não é porque olhamos para trás com saudade de uma época mais simples que ela era, de fato, melhor.
As empresas que apostam em produtos retrô, no fundo, não estão interessadas em lembrar do lado complicado dos anos 2000, por isso é necessário um pouco de pensamento crítico ao consumir certas tendências: uma mão no bolso e a outra na consciência, para não se deixar levar por tendências vazias.
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Filipe Rodrigues
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