Filha de Chico Science desabafa sobre presença de Virginia em homenagem ao Manguebeat no Carnaval

A decisão da escola de samba Grande Rio de coroar a influenciadora digital Virginia Fonseca como sua rainha de bateria para o Carnaval 2026, com um enredo centrado no movimento Manguebeat, gerou um intenso debate e indignação nas redes sociais. A controvérsia se aprofundou com o pronunciamento de Louise França, filha do icônico Chico Science, um dos fundadores do movimento Manguebeat, que se manifestou publicamente sobre o assunto.

A Escolha da Rainha de Bateria e as Primeiras Reações

No última quinta-feira (22), a Grande Rio anunciou Virginia como sua nova rainha de bateria. A notícia rapidamente se espalhou, e as reações iniciais, especialmente online, foram majoritariamente negativas. Comentários como “que loucura é essa aí de colocar a Virgínia pra representar Chico Science ?!!!?!?” e “acho que se eu abrir a boca pra falar sobre a VIRGINIA FONSECA ser a rainha de bateria de uma escola de samba que quer “homenagear” o MANGUEBEAT e CHICO SCIENCE eu explodo de tanta raiva” inundaram as redes sociais, expressando um forte descontentamento. A repercussão foi tão intensa que o Mestre de Bateria Fabrício Machado de Lima chegou a relatar ter recebido críticas, ofensas, insultos e até ameaças, levando-o a se afastar temporariamente das redes sociais.

Para o Carnaval de 2026, a Grande Rio escolheu homenagear o movimento Manguebeat. Nascido em Pernambuco no início dos anos 1990, o Manguebeat foi um movimento cultural de forte crítica social, impulsionado por artistas como Chico Science e Fred 04. Sua ideologia se baseava na ação coletiva, na revalorização de uma cultura genuinamente local e na denúncia das desigualdades sociais, da violência e da fome, utilizando a metáfora do “mangue” (lama) para expressar essas realidades. O movimento buscava democratizar as políticas culturais e empoderar comunidades periféricas, desafiando as mídias tradicionais e promovendo a transformação social.

A Indignação e a Voz de Louise França

A principal fonte de indignação reside na percebida incompatibilidade entre a figura de Virginia Fonseca e os princípios do Manguebeat. Críticas contundentes surgiram, destacando o contraste entre o legado de denúncia social do movimento e a imagem da influenciadora, que recentemente depôs em uma CPI sobre “bets” por supostamente “enganar os pobres”.

Louise França, filha de Chico Science, fez um pronunciamento detalhado em suas redes sociais, expressando seu descontentamento. Ela afirmou que “nem na mais louca hipótese seria a favor da decisão de receber esse ser humano como rainha de bateria da Grande Rio dentro de um enredo tão profundo e importante, e ao mesmo tempo tão distante e díspar do que ela representa.” Louise ressaltou que o enredo diz respeito a um legado cultural e histórico que Virginia sequer compreende.

Apesar de abominar a presença de Fonseca na homenagem, Louise França ponderou que não tem o poder de mudar o que já foi feito, nem acredita que a figura da influenciadora possa “diminuir, manchar ou ferir a memória do movimento”. Ela reforçou que seu pai, Chico Science, “na Sapucaí e na história permanecerá PROTAGONISTA e RELEVANTE, e não um mero enfeite alegórico perecível que trata com deboche a desgraça alheia”. A atriz Carol Castro também endossou as críticas, concordando com a incongruência da escolha.

Virginia e Grande Rio

Outro ponto de polêmica que surgiu foi o rumor de que Virginia Fonseca teria imposto a condição de que o samba-enredo não tivesse referências a Exu, orixá do candomblé e da umbanda, figura que a Grande Rio já reverenciou em carnavais anteriores. A assessoria de imprensa da Grande Rio, no entanto, negou veementemente a informação, classificando-a como “fake news” e garantindo que a escola respeita todas as religiões.

Até o momento, a Grande Rio não emitiu um comunicado oficial amplo respondendo diretamente às críticas sobre a adequação de Virginia Fonseca ao enredo do Manguebeat, além da desmentida sobre a suposta exigência religiosa. A escola parece estar optando por manter sua decisão, enquanto a discussão sobre os valores representados no Carnaval segue aquecida.

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