“Fui uma das originais”: Leather segue imbatível em um metal que resiste às mulheres maduras

No metal, é comum que os deuses envelheçam aos olhos do público e alcancem a consagração com o tempo. Já as mulheres raramente têm esse destino: a cena ainda valoriza a juventude delas. Em meio a poucas exceções como Doro Pesch, Lita Ford e Tarja Turunen, Leather Leone se destaca como um símbolo de resistência. Figura lendária do metal tradicional, ela chega ao Brasil aos 66 anos para uma série de shows neste e no próximo mês.
Mesmo sem se assumir como porta-voz, Leather Leone rompe silêncios e desafia o etarismo ao seguir criando e subindo aos palcos com a mesma força que a consagrou nos anos 1980, à frente do Chastain. É com esse olhar que a entrevistei para o TMDQA!, numa conversa que reforça um tema constante desta coluna: o afastamento das mulheres da cena metálica, que as torna cada vez mais invisíveis à medida que a idade avança.
O peso de permanecer
Leather Leone construiu sua carreira mantendo-se fiel à própria identidade. Em um gênero que ainda naturaliza o envelhecimento masculino nos palcos — como vemos com ícones como Rob Halford, Bruce Dickinson e dezenas de outros — enquanto empurra as mulheres para fora da cena, ela fez diferente. Após uma pausa de 20 anos longe da música — decisão que, segundo ela, não teve relação com sexismo ou etarismo — Leather retornou com força nos anos 2010, assinando três álbuns solo e mostrando que sua voz e presença continuam tão intensas quanto sempre foram.
“Eu nunca fui a ‘garota bonita’ do metal, sempre fui a ‘tomboy’ (termo em inglês para mulheres com traços de personalidade e preferências que fogem aos estereótipos femininos tradicionais). Então, tem certas situações de pressão contra mulheres que acabei não vivendo”.
Leather Leone
Para ela, ver o crescimento da cena feminina é algo animador: “Eu vejo que muitas dessas atitudes sexistas amenizaram principalmente com a posição forte das mulheres no gênero. Eu estou apaixonada por Spiritbox, Jinjer e Torture Squad!”, conta.
Shows no país e time brasileiro
Neste retorno ao Brasil, a cantora faz três apresentações em São Paulo: a primeira foi dia 18 de setembro, no The Metal Bar, e a segunda será em 26 de setembro, no Rocknation – Edição Ipiranga, no Malta Rock Bar em show acústico com um momento “Perguntas e Respostas” com os fãs. Por fim, haverá um show no Paraná, dia 5 de outubro, no Festival Nós da Cultura, em Jandaia do Sul.
Leather tem uma relação especialmente forte com o nosso país. Ela construiu uma rede de músicos e artistas brasileiros que apoiam diretamente sua carreira, a começar pelas presenças que a acompanham nessa turnê: o guitarrista Kiko Shred (Viper), o baixista Fábio Carito e os vocalistas Mayara Puertas (Torture Squad) e Marcello Pompeu (Korzus) que participam especialmente do show do dia 26.
Ela também conta com o renomado ilustrador gaúcho Marcelo Vasco, que já desenhou para Slayer, Testament, Kreator e outros, na capa do álbum mais recente We Are the Chosen, além da contribuição do guitarrista Vinnie Tex, que aparece no clipe homônimo ao disco, gravado em uma locação histórica em São José do Vale da Boa Morte, no Rio de Janeiro.
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“Minha primeira viagem ao Brasil foi em 2014 e assim que cheguei no Rio fiquei encantada! A mágica, a comida, a arquitetura e claro, a música, me pegaram! Também gosto de estar em São Paulo que é cheia de criatividade”, conta.
Desafio aos padrões, ativismo e escolhas
Após 20 anos longe dos palcos, Leather Leone fez um retorno consciente e pleno, motivado por escolhas pessoais, e não por pressões externas. “Dediquei meu tempo aos animais. Aproveitei a vida na Califórnia”, conta, afirmando que a pausa a fortaleceu vocalmente e a tornou mais grata e presente.
O desafio aos padrões está evidente em seu modo de vida:
“Escolhi ficar solteira e sem filhos, então estou bem. Sempre levei uma vida que me permite levantar e ir embora quando quiser.”.
Paralelamente à música, Leather mantém uma relação com os direitos dos animais — foi para a medicina veterinária nos anos 1990 enquanto dava uma pausa da música e, vegana, afirma: “Luto por aqueles cuja voz não conseguimos ouvir.” O show do dia 26 de setembro, no Malta Rock Bar, em São Paulo, será ponto de arrecadação de ração para cães e gatos, ação semelhantes a outras que já promoveu em passagens pelo Brasil. Você pode conhecer outros nomes veganos no metal aqui.
Pergunto como gostaria que as pessoas lembrassem dela no futuro, e Leather não hesita:
“Fui uma das originais, mantive minhas roupas e cantei como uma filha da p*.**”!
Leather Leone
Mais do que uma sobrevivente em um meio historicamente desigual, Leather Leone é prova viva de que a integridade — artística, pessoal e ética — pode caminhar ao lado da longevidade. Sua voz continua poderosa, sua presença, incontestável, e seus discos recentes mostram que o tempo lapidou sua arte. Em um cenário que ainda precisa rever muitos de seus valores, ela segue firme, não como exceção, mas como referência.
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Isis Correia
“Fui uma das originais”: Leather segue imbatível em um metal que resiste às mulheres maduras