Joca traça travessias espirituais e sonoras no álbum “Cortavento”

Joca
Foto: João Medeiros

Desde o primeiro verso até o último sopro de batucada, o novo álbum de Joca parece atravessar camadas de tempo, de corpo, de território. Em Cortavento, o rapper de Niterói recusa atalhos, desafia fórmulas e se debruça sobre a própria identidade como quem escava o solo com as próprias mãos.

É uma escuta que pulsa entre o espiritual e o urbano, entre o coletivo e o íntimo, entre o voo e a queda. Como ele mesmo diz, “uma forma de se movimentar sem sair do lugar”.

Lançado seis anos após o já cultuado A Salvação é Pelo Risco: O Show do JOCA, o novo trabalho reafirma a singularidade da sua linguagem e revela um artista que amadureceu sem perder o risco como ponto de partida. Se o disco anterior era movido pela urgência de quem precisa dizer tudo antes que o tempo acabe, Cortavento é uma travessia mais serena, mas não menos intensa — feita com a coragem de olhar para dentro e o cuidado de quem entende a potência de suas ferramentas.

Ancestralidade de Joca

A direção musical do próprio Joca conduz o ouvinte por um território de sons que se entrelaçam: do Amapiano ao Miami Bass, da percussão afro-brasileira às frequências eletrônicas da diáspora, passando pelo boom bap, trap e garage.

São batidas que não se encaixam facilmente em nenhuma prateleira e que carregam o DNA de um artista moldado entre os sambas da infância e a inquietação dos estúdios contemporâneos. “Desde muito pequeno, eu gosto de misturar claves, trabalhar com sobreposições, construção de novos ritmos, criar variações com ritmos ancestrais. Em 2025, é muito difícil criar algo novo, então a forma de misturar os mundos é uma maneira de refletir quem eu sou e o meu ímpeto criativo.”

Dividido em dois blocos — separados pela faixa “Rhali” —, o disco opera como se fosse um vinil: no lado A, o sonho, a leveza, a sensação de voo. No lado B, o retorno ao chão, às raízes, ao corpo. “O trabalho tem a ideia de não ser conclusivo, por isso ele trabalha nos dois polos”, explica o artista.

O álbum carrega uma espiritualidade viva, que não está ali para enfeitar o discurso, mas para proteger tanto quem canta quanto quem escuta. Ele abre com um canto para Exú e se encerra com a frase “afasta quem não é do bem, fé”, como quem delimita um campo sagrado.

“No primeiro momento, eu me debrucei sobre a minha espiritualidade para entender de onde veio os ritmos ancestrais que formam a música contemporânea. Num dado momento, eu entendi que o uso desse conhecimento precisava ser feito com cuidado, já que estamos falando de uma sonoridade feita por um povo marginalizado. Então, a partir daí, eu começo a relatar um pouco mais sobre o meu desenvolvimento espiritual para a minha forma de contar histórias usando esses símbolos”, diz Joca. O disco, assim, se torna também um território de resistência e memória.

As participações de Ebony, Tuyo, Luciane Dom, Amanda Sarmento, Jef Rodriguez e Luana Karoo atuam como espelhos e extensões do próprio universo do artista. Cada faixa, cada verso, cada batida parece ter sido desenhada para provocar. E é justamente isso que ele busca: “Eu espero colher uma cena mais plural e inclusiva. Que esse álbum estimule uma próxima geração a sair da caixinha, provocando os novos artistas a buscarem o diferente para além do que está estabelecido no mercado.”

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Felipe Mascari

Joca traça travessias espirituais e sonoras no álbum “Cortavento”


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