Melly reflete sobre levar representatividade ao The Town e celebra show com Os Garotin

MELLY
Foto: Edgar Azevedo

Melly e Os Garotin estão entre os nomes que movimentam a atual cena da música brasileira e um encontro muito especial e inédito entre eles vai acontecer no palco do The Town.

No dia 13 de setembro, o trio carioca irá receber a cantora baiana como sua convidada no show que será realizado no Palco The One do festival que acontece nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Em conversa recente com o TMDQA!, Melly disse que a proposta da parceria foi uma iniciativa do festival e ficou feliz com o incentivo, pois já sentia vontade de trocar com Os Garotin. Sobre a conexão e o que aproxima o trabalho dela, que mistura R&B, soul, pagodão baiano e outros estilos, com o do trio que também apresenta influências do R&B com elementos da MPB e do pop, a cantora apontou:

“Eu acho que o lugar de inconformidade ali, mas inconformidade no sentido de se sentir catalisado pra continuar movimentando a arte do Brasil. No sentido de mudar a música, de propor novos gêneros, novos resultados musicais, com o que se pode fazer, com o que a gente já tem, com o repertório que a gente já tem. Eu acho que a gente vai muito nesse lugar de inovação. Eu fico feliz de ver que a gente tem essa característica semelhante e muitas coisas também de diferenças que vai fazer com que a gente torne esse encontro muito mais especial.”

Quando Melly sobe no palco, a artista carrega não apenas sua voz, mas também toda a sua vivência enquanto mulher negra, nordestina e integrante da comunidade LGBTQIA+. A cantora dona de Amaríssima tem consciência de que sua presença em um festival de grande porte como o The Town vai além do entretenimento, é também um ato de representatividade e afirmação cultural:

“[…] Eu saí de comunidade, de um bairro mais popular, de um lugar onde eu não achava que eu podia acessar tantas coisas inacessíveis. Um festival… nunca que eu achei na vida que eu fosse ir a um festival, muito menos tocar num festival como esse, que parecia uma uma parada inatingível, ficava naquele mundo do platônico e agora eu tô lá, eu cheguei lá. Então é importante também que a gente tenha esse lugar do festival procurar artistas que estão fora desse eixo, que é normalmente contratado, fora do Rio e de São Paulo, fora do padrão que o mercado pede. O público tem pedido esse tipo de representatividade e eu me sinto feliz por, de certa forma, ter alguma mensagem coerente pra passar, ter alguma mensagem relevante pra conectar.”

Na conversa, a artista baiana também comentou sobre as expectativas em relação à visibilidade que participar do The Town pode oferecer e apontou como tem sido trabalhar com artistas veteranos e seus contemporâneos nos últmos anos.

Leia o papo na íntegra logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Melly

TMDQA!: Como foi o convite para participar do show dos Garotin e como você se sentiu ao ser convocada?

Melly: Foi uma iniciativa do festival junto com nossos empresários. Mas que bom que aconteceu esse incentivo, às vezes é legal a gente ter desse outro lado essa instiga, né? Eu já tinha muita vontade de trocar com os meninos, até porque eu admiro o trabalho, a gente sempre se bate, né? Estávamos juntos no Grammy, alguns outros eventos, algumas outras coisas muito interessantes. Acho que vai ser o start aí de uma relação muito feliz.

TMDQA!: Você e os Garotin são destaques dessa cena atual da música brasileira. Pensando um pouco sobre a conexão entre o trabalho de vocês, o que você acha que aproxima vocês musicalmente e artisticamente?

Melly: Eu acho que o lugar de inconformidade ali, mas inconformidade no sentido de se sentir catalisado pra continuar movimentando a arte do Brasil. No sentido de mudar a música, de propor novos gêneros, novos resultados musicais, com o que se pode fazer, com o que a gente já tem, com o repertório que a gente já tem. Eu acho que a gente vai muito nesse lugar de inovação. Eu fico feliz de ver que a gente tem essa característica semelhante e muitas coisas também de diferenças que vai fazer com que a gente torne esse encontro muito mais especial.

TMDQA!: Você tem marcado presença em muitos festivais e integrar a programação de um evento da proporção do The Town tem um peso diferente, especialmente para artistas em ascensão. O que significa pra você estar nesse line-up?

Melly: Eu falei até em algumas entrevistas, que eu tava com frio na barriga porque é um grande desafio chegar num palco desse tamanho, chegando no início de carreira apesar de muita coisa já ter caminhado desde que eu lancei “Azul”, mas ainda assim eu me sinto principiante nesse assunto, me sinto principiante nesse mundo da música. E chegar já pra essa proporção acho que é gratificante demais. É só agradecer mesmo e continuar trabalhando, trabalhando, trabalhando em prol da arte mesmo e da verdade das coisas. Pra só continuar e impulsionar mais ainda.

Eu tô muito feliz mesmo, acho que vai ser uma entrega muito bonita até porque a gente já tem essa sinergia, eu e os Garotin. Eu já tenho essa certa admiração por eles, eu acredito que eles também pelo que eu percebi, eles já foram nos meus shows e tal a gente já trocou nesse sentido então eu sei que eles também de certa forma gostam do meu trabalho e a gente vai se divertir e o mais importante vai ser isso, a gente vai se divertir.

TMDQA!: Você sente que estar nesse palco, como uma mulher negra, nordestina, e integrante da comunidade LGBTQIA+, também é uma forma de representar muita gente que ainda não se vê nesses espaços?

Melly: Pô, claro. A gente demora um tempo pra perceber a grandeza e o significado do nosso trabalho, mas de um tempinho pra cá eu tenho passado a ficar mais segura comigo, com a minha pele, com a minha história e com o que eu sei que eu represento com a minha história. Eu saí de comunidade, de um bairro mais popular, de um lugar onde eu não achava que eu podia acessar tantas coisas inacessíveis. Um festival… nunca que eu achei na vida que eu fosse ir a um festival, muito menos tocar num festival como esse, que parecia uma uma parada inatingível, ficava naquele mundo do platônico e agora eu tô lá, eu cheguei lá. Então é importante também que a gente tenha esse lugar do festival procurar artistas que estão fora desse eixo, que é normalmente contratado, fora do Rio e de São Paulo, fora do padrão que o mercado pede.

O público tem pedido esse tipo de representatividade e eu me sinto feliz por, de certa forma, ter alguma mensagem coerente pra passar, ter alguma mensagem relevante pra conectar. Então vai ser muito massa. Tomara que tenha muito do meu público lá, muito do público dos Garotin também, que eu sei que é muito semelhante. E é muito legal reconhecer hoje em dia que a minha voz pode representar algumas outras milhares de vozes. Então eu pego essa responsabilidade e eu encaro com seriedade.

TMDQA!: Quais são suas expectativas para a experiência no festival em relação à visibilidade que esse tipo de palco oferece?

Melly: É mais um passo. Um grande passo, na verdade, vai ser um passão [risos]. Até agora, na verdade nem tem sido tudo, passinho de formiga, porque as coisas têm evoluído de forma fluida, como se fosse uma cachoeira desaguando em tudo aí. Mas vai ser mais um passo, e é importante a gente estar presente, a gente ser vista, e eu fico feliz por ter essa janela.

TMDQA!: E em relação ao show, o que você pode adiantar pra gente sobre o que o público vai ver nessa participação? Tem algo especial sendo preparado?

Melly: O que podem esperar ali é uma felicidade e um divertimento extremo, né? Porque a gente vai estar no palco se curtindo. A gente não começou ainda a organizar os arranjos, até porque eu tenho viajado muito, eles também têm feito muitos shows, acredito, né? Então vai chegar o momento que vamos sentar e vamos arranjar tudo isso. Mas tenho certeza que vai ficar fenomenal e a energia no palco vai ser esplêndida. A gente vai conseguir viver aquilo ali no máximo do máximo.

TMDQA!: Apesar do seu som apresentar elementos diferentes, o R&B está presente, e a gente percebe que nos últimos anos esse é um gênero que tem se destacado no som de vários artistas brasileiros. Como você enxerga esse crescimento do R&B na cena atual? Você acredita que o público está mais aberto a novas linguagens dentro do gênero, especialmente quando ele dialoga com elementos da cultura brasileira, como você faz nas suas músicas?

Melly: O R&B, na verdade, ele sempre esteve presente na música brasileira. Porque, a partir do momento que as coisas se globalizaram, desde que o mundo se conectou, eu acredito que ficou mais fácil, mais simples, pra gente poder acessar coisas de outras regiões. Porque o R&B é um gênero internacional, estadunidense, eu acredito, e a galera começou a pesquisar e a colocar elementos disso na música. Djavan mesmo, o cara bagaçava nas influências de Rhythm and Blues. Gil também, no disco “A Gente Precisa Ver o Luar”, que tem “Palco”, ele foi muito nessa pesquisa da Black Music, do R&B. Só que as coisas se transmutam com o tempo. Agora o R&B é um pouquinho mais eletrônico, atualizado, um pouquinho mais moderno. E também a gente tem dado nome às coisas. R&B não é um nome muito popular, não é uma denominação muito simples de se absorver, porque está em inglês, e a maioria dos brasileiros não falam inglês. Então fica difícil de ser acessível, de ter compreensão. Não se falava muito disso antes.

Ed Motta mesmo, ele é R&B demais. Acho que a gente está dando nome às coisas agora, e dando destaque. Mas R&B já é macaco velho na música brasileira e no que se transmuta quando a gente pega isso e insere a nossa cultura, o nosso repertório. O que eu faço com o R&B é ser uma canalizadora. Quando alguma coisa passa por você, aquilo ali já sai de forma completamente diferente. Se eu vestir um sapato seu agora, quando você for calçar depois, o formato vai estar diferente. As coisas não são inexoráveis, elas vão mudando com o tempo. E é isso que eu faço. É isso que os Garotin fazem também.

TMDQA!: Demais! Vocês, Luedji, Liniker. Acho que vários dessa nova cena brasileira. A gente tem visto muita inovação mesmo desse ritmo, implementando com outras coisas. Fica sensacional.

Melly: A Black Music é mãe. A gente bebe sempre dessa fonte. Não só os artistas pretos, como outras pessoas de outras influências, acabam bebendo nessa cena. Marina Sena, às vezes ela bebe muito de R&B assim, “Mande um Sinal” mesmo, ali é completamente gospel, nessa seara da Black Music.

TMDQA!: Em janeiro você tocou com a Pitty, que é uma artista veterana, no Festival de Verão e agora vai dividir o palco com Os Garotin, que são seus contemporâneos, no The Town. Como tem sido transitar entre gerações tão diferentes da música brasileira? O que você leva dessas experiências com artistas que possuem mais tempo de estrada e o que muda quando está ao lado de quem, assim como você, está construindo agora seu espaço na cena?

Melly: Velho, é massa demais ter acesso a esses artistas que são as minhas referências musicais. Tanto a galera da geração atual, porque eu não vou falar que também não são referências, são pessoas que eu escuto, que eu internalizo algumas coisas de técnica vocal, de técnica de arranjo, essas questões, sabe? E Pitty foi uma artista que eu cresci escutando, que eu cresci vendo na TV. Quando eu falei pra meu pai, quando eu contei essa notícia pra minha família, todo mundo ficou assim: “Porra, vai tocar com a Pitty!”. Velho, tem uma super história. Eu sinto que estou construindo a minha com verdade, com a intenção certa. As coisas caminham de uma forma legal, de uma forma bonita. E eu sinto muito mais vontade de continuar, sabe? O que dá essa segurança, essa certeza, na verdade, é essa confiança. Não é uma confiança cega, mas uma confiança respeitosa com o que eu sei que tenho de valor, com o que eu sei que pode evoluir, chegar, sabe? Então está sendo massa poder trocar com todo mundo: com Russo, com Liniker.

TMDQA!: Pra gente encerrar o papo, também estou curiosa para saber quais shows do The Town você está com mais expectativa para assistir? Tem algum artista que você quer muito ver?

Melly: Burna Boy e Mariah Carey. Mariah eu estou bastante ansiosa, porque, assim, referência vocal né?

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Lara Teixeira

Melly reflete sobre levar representatividade ao The Town e celebra show com Os Garotin


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