Pra Ficar de Olho: A Olívia se destaca em “Obrigado Por Perguntar”

Banda A Olívia, em registro feito por Camila Cara
Foto por Camila Cara

O cenário nacional continua a surpreender com a banda A Olívia irrompendo junto de seu novo lançamento. Obrigado Por Perguntar, o segundo disco do grupo, marca uma virada em sua discografia oferecendo um olhar perspicaz e multifacetado sobre a vida.

Precedido pelo single “Hasta Luego”, o projeto aprofunda o grupo ao pop rock brasileiro contemporâneo, sem se desviar de temas de relevância global. Louis Vidall, vocalista da banda, descreve o nome como um eco da indiferença cotidiana: “Num mundo onde a empatia parece escassa, o planeta clama e conflitos se arrastam, essa frase se torna um desabafo visceral. É expressar o que pulsa por dentro, com honestidade e respeito pela palavra. Precisamos ser resilientes, mas sem perder a capacidade de nos reconectarmos com a vida. O amor é, em essência, o que nos mantém de pé”, reflete Vidall, evidenciando a profundidade lírica do trabalho.

Funcionando como um verdadeiro caleidoscópio musical – navegando entre as texturas do punk, a leveza do reggae, a introspecção do indie, a acessibilidade do pop e a intensidade do hardcore, A Olívia mantém sua assinatura inconfundível: canções de amor com toques de bom humor, letras que beiram a poesia e refrões que ecoam fúria e inconformismo. Este álbum é, sem dúvida, o projeto mais ambicioso da banda desde sua estreia em 2017 com “Jardineiros de Concreto”

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Os segredos por trás de cada nota: uma análise faixa a faixa

Para apresentar melhor o álbum, Louis Vidall revela as camadas de inspiração e significado que compõem Obrigado Por Perguntar. Se liga!

1. Entretenimento: Elegemos como a música perfeita para abrir o álbum, criando a sequência semântica “Obrigado por perguntar! Eu falo desse jeito, pra te arrancar o riso…”  

Adoro quando a canção fica com essa cara metalinguística. Acho que pego um pouco dessa inspiração na poesia concreta. Então, “Entretenimento” é uma música para entreter, que fala sobre o próprio entretenimento, tanto o lado bom quanto o ruim. É um pop rock na veia!

2. Ideia Maluca: Pra mim, “Ideia Maluca” é o desenrolar de uma boa conversa, seja com o outro ou com si mesmo. O resultado são pessoas felizes, desprendidas, que recorrem ao tarot e a intuição. Mirabolando ideias na cabeça, sem preconceitos e cheias de possibilidades. Não por acaso é uma das músicas mais agitadas do álbum. É sobre ser livre.

3. Incêndio em Mim: Sabe quando você finalmente cria coragem para abrir o seu coração e aí de repente tem aquele momento mágico do tipo: “caramba, tá acontecendo, como é bom estar vulnerável, quem sabe isso aqui dê certo e eu possa beijar essa pessoa depois de dizer meus sentimentos.” É um fogo que se acalma e tranquiliza. É uma conversa na varanda a meia luz, dá até um friozinho na barriga.

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4. Insustentável: “Insustentável” levou muito tempo para ficar pronta. No começo da música, em 2016, eu queria fazer algo sobre as olimpíadas e a dificuldade do esportista no Brasil. Percebi que o tema era muito maior, e acabou virando uma música sobre a ilusão que temos em fantasiar um outro mundo, enquanto deveríamos encarar esse aqui mesmo e enfrentar as coisas que não podem mais ser. Gosto da leveza que a música tem, é divertida de tocar e cantar. Os teclados e o slide da guitarra dão uma vibe única. Tem várias viradas de bateria e brincadeiras rítmicas também bem interessantes.

5. Ensaio Aberto: O arranjo dessa música é um dos mais bonitos que já fizemos. Pra mim, é uma música toda linda, que fala sobre coisas fora da caixa. Trocar ideia com alguém e puxar assuntos profundos, sinceros, malucos, uma coisa mais sensível e sensual ao mesmo tempo. É quase um flerte, mas não com as mesmas intenções apaixonadas de “Incêndio em Mim”. Podemos ser grandes amigos, podemos ser amantes, só vamos por favor ser legais um com outro e falar de coisas especiais. Eu abro um pedacinho do meu mundo pra você e vice e versa. Quem sabe no que esse papo vai dar.

6. Hasta Luego: Uma música que combina com a praia, quase um reggae, quase alto astral. Quando você para pra perceber, existe uma reflexão sobre as guerras, sobre a voz que fraqueja em um mundo hostil. Acho que a gente precisa aprender a se divertir nessa realidade contraditória e problemática. Todo mundo merece passar as festas do final do ano com quem ama. 

7. Boa Tarde: Brasilidade e ousadia. Uma onda Raul Seixas conversando com Franz Kafka, com toda a reverência que faço a esses dois gênios. Essa é quase tão antiga quanto “Insustentável” e fala mais especificamente sobre o trabalho. Baseada em fatos reais! Escrevi na época que trabalhei como suporte telefone/chat de uma empresa gigante de tecnologia, uma das Big Techs. (uma dessas mesmo que você tá pensando). Tinha mesa de ping-pong para relaxar, mas a pausa pro banheiro era algo computado. Mas não fui eu que disse isso tá…

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8. Hora Extra: Talvez uma das minhas letras preferidas. Retrata a vida de uma pessoa trabalhadora, numa rotina cansativa e sem grana pra nada. Não é uma pessoa conformada, tem fome de cultura, de lazer, diversão e ballet. Mas a grana é pouca, a correria é muita e as incoerências da vida não fazem o menor sentido. A guitarra bem seca e extremamente distorcida são os pensamentos que pesam em sua cabeça. O bolso pode estar vazio, mas se recusa a abrir mão da arte e da dignidade.

9. Histórias que Não Escrevi: Um riff melódico lindo de baixo que o Pedro Tiepolo criou e tocava entre as músicas do ensaio. Um belo dia eu disse: “Cara, por favor grava e me manda!”. Daí lembrei da história de um amigo rapper, o Nego Jé . Artista super talentoso que conheci por conta de outro amigo da música, o Caio Groove. Nego tinha vários sonhos, um acidente encerrou esses sonhos. Mas ele escreveu as suas histórias e isso me emociona até hoje. Me emociona também pensar que Pedrinho e Nego nunca se conheceram, mas que essa música une nós três e eterniza essa relação de uma forma que só a arte é capaz.

10. Alma: Aqui a melancolia faz a festa, né! Tortas de maçã, violão, música latina, uma carinha de manhã cinzenta. Alma, como viver sem?  É o café sem açúcar do Cazuza (embora hoje a gente saiba que café é de fato muito melhor sem açúcar). Aqui a gente flerta bastante com a estética latina e principalmente com o rock argentino. Devo essa inspiração ao Esteban Tavares, compus essa música no ano em que fizemos uma porção de shows juntos.

11. Viver um Amor: A primeira música que o Marcelo Rosado me mostrou, já estava bem avançada e terminamos juntos, principalmente a melodia. Perguntei pra ele, cara, sobre o que você tá falando? Ele disse isso aqui:  “’Viver Um Amor’ é sobre as aspirações e contradições de uma vida comum. Ao mesmo tempo em que quer viver numa casa tranquila e um amor leve, o sujeito também sente a necessidade de viver sem o peso de tantas obrigações.”

12. Lugar Comum: “Lugar Comum” é o nosso pé no indie rock, com influências de Blur, Weezer, Snarky Puppy e do nosso meio independente. É como andar por aí na madrugada depois de um rolê underground às 4 da manhã, indo pro metrô. A gente quer o risco, quer conhecer coisa nova e não quer cair na mesmice. Admito que já foi mais fácil, a madrugada não era tão violenta. Mas recuar não é uma saída, a vida respira na rua e a gente precisa desse ar fresco.

13. Nem Debaixo de Tiro: Agora foi a vez do Marcelo me perguntar “por que caramba você fica nesse barco levando tiro de tudo quanto é lado?”
Se você tá no seu barco, que você mesmo escolheu o modelo, a direção, o mar, e você acredita e sabe onde quer chegar, tem que continuar no barco  mesmo! Por mais que tenha um bando de inconvenientes sendo disparados contra você o tempo todo. 

Essa música é a mais pesada do álbum, uma pedrada, um ponto final, mas não para por aí… A gente sempre tem o que falar. Obrigado por Perguntar!

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Eduardo Ferreira

Pra Ficar de Olho: A Olívia se destaca em “Obrigado Por Perguntar”


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