Resenha: Luedji Luna mergulha nas profundezas do amor em “Um Mar Pra Cada Um,”

Foto por Henrique Falci

Luedji Luna não faz música para ser consumida apressadamente – ela exige presença. Em Um Mar Pra Cada Um, seu quarto álbum de estúdio lançado nessa segunda (26), a artista baiana reafirma-se como uma força singular na música brasileira contemporânea. Longe de fórmulas fáceis ou da busca por um novo hit como o já clássico “Banho de Folhas”, Luedji entrega aqui sua obra mais íntima, espiritual e ousada.

O disco encerra a trilogia iniciada com Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água (2020), seguida da versão deluxe e de um registro ao vivo. Se ali ela já havia sinalizado um mergulho para dentro, Um Mar Pra Cada Um é a travessia completa – um álbum que nasce do corpo e da alma, mas ecoa no invisível, flertando com espiritualidade, sound healing e terapias sonoras aplicadas com seriedade e sofisticação.

O TMDQA! ouviu o disco e destaca as primeiras impressões sobre a seguir. Vamos lá?

Amor: expansivo e introspectivo

A produção é diversa e cosmopolita, sem jamais perder as raízes. Zudzilla, parceiro de vida e trabalho, assina algumas das produções mais densas e emocionais do álbum, como em “Harém”, que conta com participação poderosa de Liniker. Em apenas alguns segundos, Liniker rompe o silêncio para interpretar o desabafo de um coração ferido: “Ele não presta…”. O texto falado dá lugar a uma batida quebrada que prepara o solo para um dos momentos mais intensos do disco – uma catarse emocional que equilibra drama, humor e dor.

O disco também conta com parcerias internacionais que expandem seu universo sonoro: a saxofonista britânica Nubya Garcia participa da regravação de “Dentro Ali” – canção que já havia surgido em 2017 no EP Mundo, com participações de Rincon Sapiência, DJ Nyack e Tássia Reis. Aqui, ela renasce com ainda mais potência emocional, refletindo a proposta do álbum de revisitar afetos passados sob nova luz. A presença do guitarrista Isaiah Sharkey (conhecido por colaborar com D’Angelo, Common e Robert Glasper) e do trumpetista Takuya Kuroda em “Salty” adiciona camadas de R&B e jazz com sofisticação, mas sempre em diálogo com a tradição afro-baiana de Luedji.

O instrumental “Gênesis”, responsável por abrir o álbum, é um dos momentos mais simbólicos: piano, contrabaixo, bateria e sopros baianos se unem em uma composição sem palavras, mas repleta de espiritualidade. Representa o sopro da criação, um ponto de partida que não apenas abre a narrativa do disco, mas convida o ouvinte ao acolhimento silencioso.

A canção “4hz”, uma gravação em tom de áudio de WhatsApp com produção de Kato Change, talvez sintetize o espírito do disco: é confissão, lamento, desabafo e reza – tudo ao mesmo tempo. Luedji expõe um drama amoroso vivido por uma amiga, mas com tamanha entrega que parece falar de si mesma, do feminino coletivo, das dores acumuladas que atravessam gerações de mulheres negras.

E se há espiritualidade em toda parte, ela não está atrelada a um dogma específico, mas a uma experiência sensível e terapêutica. Luedji aplica em sua música estudos sobre frequências de cura, questiona os desejos, a carência e a noção de felicidade. Não há respostas fáceis. Como ela mesma diz: “Não sei se se conversa com o mercado atual, se vai ter um hit, se vai dar certo…”.

Luedji Luna: única

Porém, a resposta é sim, dá certo. Transcendendo as expectativas, Luedji Luna mais uma vez comprova-se como uma artista em constante reinvenção.

Sua produção meticulosa, a profundidade lírica que explora o amor e a cura sob uma perspectiva negra e a inovação sonora e colaborativa fazem deste um dos lançamentos mais significativos de 2025. É uma obra que não apenas se ouve, mas se sente, convidando o ouvinte a um mergulho em suas próprias águas de afeto e autodescoberta.

Um Mar Pra Cada Um é exatamente sobre isso: a recusa em se moldar ao que se espera. É sobre fazer arte com autonomia e integridade. É um disco feito não para o streaming, mas para o corpo, o tempo e o silêncio do ouvinte. Nele, Luedji Luna não apenas canta – ela pensa, cura e provoca. E confirma o que muitos já sabiam: há poucos nomes tão corajosos, criativos e essenciais na música brasileira hoje.

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Eduardo Ferreira

Resenha: Luedji Luna mergulha nas profundezas do amor em “Um Mar Pra Cada Um,”


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