Thom Yorke se pronuncia sobre conflito de Israel e Gaza após críticas

Foto por Dani Canto/Primavera Sound

Em Outubro de 2024, como te contamos por aqui, Thom Yorke abandonou o palco de uma apresentação na Austrália depois que uma pessoa da plateia o questionou, perguntando “quantas crianças mortas [seriam] necessárias para [ele] condenar o genocídio em Gaza”. Agora, mais de seis meses depois, o líder do Radiohead se pronunciou sobre o tema.

O envolvimento de Yorke e sua banda com essas questões é antigo: o grupo dono do hit “Creep” se apresentou em Tel Aviv em 2017, mesmo após muitas pessoas pedirem para que a performance fosse cancelada. O show esgotado ocorreu conforme o planejado e, na época, o músico respondeu uma crítica do diretor britânico Ken Loach, que era contra a apresentação.

A pressão sobre a banda voltou a aumentar no ano passado, após o músico do Radiohead e do The SmileJonny Greenwood, ter sido criticado por fazer um show em Tel Aviv com o artista israelense Dudu Tassa, com o movimento pró-Palestina de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) acusando-o de “usar a arte como lavagem de genocídio”.

Thom Yorke fala sobre Israel x Gaza

Em post feito no Instagram nesta sexta-feira (30), Yorke mencionou o episódio de 2024 e finalmente trouxe um posicionamento sobre sua forma de enxergar as coisas – ainda que este já tenha dividido opiniões, com alguns fãs afirmando que Thom “disse muito pouco, muito tarde” e “ficou muito em cima do muro”.

Você pode ler a mensagem de Thom Yorke na íntegra logo abaixo, com tradução para o português.

Leia o comunicado de Thom Yorke, do Radiohead

“Um cara qualquer gritando na minha direção do escuro no ano passado quando eu estava pegando o violão para cantar a última música sozinho em frente a 9000 pessoas em Melbourne não parecia ser o melhor momento para discutir a catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza.

Depois disso, eu permaneci em choque que o meu suposto silêncio foi de alguma forma visto como cumplicidade, enquanto eu tinha dificuldades para encontrar uma maneira adequada de responder a isso enquanto continuava fazendo os shows da turnê.

Aquele silêncio, minha tentativa de mostrar respeito por todos aqueles que estão sofrendo e por aqueles que morreram, e não trivializar isso como sendo poucas palavras, permitiu que outros grupos oportunistas usassem a intimidação e a difamação para preencher os espaços vazios, e eu me arrependo de dar a chance deles fazerem isso. Isso teve um custo grande para a minha saúde mental.

Eu espero que qualquer um que tenha ouvido uma nota da música da minha banda ou de qualquer música que eu criei ao longo dos anos, ou olhando qualquer arte ou lido qualquer letra, estaria evidente por si próprio que eu não poderia de forma alguma apoiar nenhum extremismo ou desumanização dos outros. Tudo que vejo ao longo de uma vida de trabalho com outros músicos e artistas é uma luta contra essas coisas, tentando criar peças que vão além do que significa ser controlado, coagido, ameaçado, do sofrimento, da intimidação… e ao invés disso encorajar o pensamento crítico sem fronteiras, a semelhança do amor e da experiência e a expressão criativa livre.

Parece bobo… mas verdadeiro.

Deixem-me colocar os pingos nos is agora, só para deixarmos tudo claro.

Eu acho que Netanyahu e seu grupo de extremistas estão totalmente fora de controle e precisam ser parados, e que a comunidade internacional deveria colocar toda pressão que puder para que eles cessem. A desculpa de estarem se defendendo já não cola mais há tempos e foi substituída por um desejo transparente de tomar o controle de Gaza e da Cisjordânia de forma permanente.

Eu acredito que essa administração ultra-nacionalista se escondeu atrás de um povo assustado e em luto e os usou para desviar todas as críticas, usando esse medo e luto para avançar a agenda ultra-nacionalista deles com consequências terríveis, conforme vemos agora com o aterrorizante bloqueio de ajuda a Gaza.

Enquanto nossas vidas continuam como se nada, essas infinitas milhares de almas humanas inocentes AINDA estão sendo expulsas da terra… por quê?

Ao mesmo tempo, o refrão inquestionável de ‘Palestina Livre’ que cerca todos nós não responde a simples pergunta de por que os reféns não foram todos devolvidos ainda? Por qual possível motivo?

Por que o Hamas escolheu os atos verdadeiramente horríveis de 7 de Outubro? A resposta parece óbvia, e eu acredito que o Hamas também escolhe se esconder atrás do sofrimento de seu povo, de maneira igualmente cínica para seus próprios propósitos.

Eu também acho que há um ponto além disso extremamente importante a ser feito.

A caça às bruxas nas redes sociais (nada de novo) de ambos os lados, pressionando artistas e quem quer que sintam vontade naquela semana, a fazerem comunicados e etc., faz pouco além de exacerbar as tensões, o medo e a simplificação de problemas que são complexos, que merecem debates cara a cara entre pessoas que genuinamente querem que a matança acabe e que um entendimento seja encontrado.

Essa polarização deliberada não adianta de nada para os nossos colegas seres humanos e perpetua uma constante mentalidade de ‘nós contra eles’. Ela destrói a esperança e mantém um sentimento de isolamento, justamente as coisas que extremistas usam para manter suas posições. Nós facilitamos que eles se escondam à plena vista se assumimos que os extremistas e as pessoas que eles alegam representar são os mesmos, indivisíveis.

Se nosso mundo algum dia vai ser capaz de deixar para trás esses tempos sombrios e encontrar a paz, será apenas quando nós redescobrirmos o que compartilhamos em comum, e os extremistas são mandados de volta para sentar na escuridão de onde vieram.

Eu simpatizo completamente com o desejo de ‘fazer algo’ quando estamos testemunhando um sofrimento tão horrível nos nossos dispositivos todos os dias. Faz total sentido. Mas eu hoje acho que é uma ilusão perigosa acreditar que repostar, ou publicar mensagens de uma ou duas linhas seja algo significativo, especialmente se é para condenar outros seres humanos. Há consequências que não são intencionais.

É gritar do escuro. É não olhar as pessoas no olho enquanto fala. É assumir coisas perigosas. Não é um debate, e não é pensamento crítico.

Mais importante, é algo aberto à manipulação online de todos os tipos, tanto mecanicista quanto política.

Qual é a alternativa? Eu não consigo responder isso facilmente. Eu sei que em comunidades ao redor do globo esse assunto agora é perigosamente tóxico e estamos em águas não descobertas. Precisamos voltar.

Eu tenho certeza que, até esse momento, o que eu escrevi aqui não vai satisfazer de maneira alguma aqueles que escolheram alvejar a mim ou àqueles com quem trabalho; eles vão perder tempo procurando falhas e caçando motivos para continuar, [pois] nós somos uma oportunidade que não pode ser perdida, sem dúvidas, e de ambos os lados.

Eu escrevi isso na simples esperança de que eu possa me juntar com os milhões de outros que rezam para que esse sofrimento, isolamento e morte possa parar, rezando para que possamos coletivamente recuperar nossa humanidade e dignidade e nossa habilidade de encontrar um entendimento comum para que um dia em breve essa escuridão tenha passado.

Thom Yorke”

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Felipe Ernani

Thom Yorke se pronuncia sobre conflito de Israel e Gaza após críticas


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