TMDQA! Entrevista: Maneva celebra 20 anos com nova turnê e mergulho no próprio legado

Foto por Pablo Grotto/Divulgação

A banda Maneva, influente nome do reggae nacional, está completando 20 anos de carreira e já está na estrada com uma nova turnê que celebra o marco.

A série de shows intitulada “Maneva, 20 anos, Origem” chega após a banda disponibilizar em setembro de 2024 seu disco Origem. A obra marcou o retorno do grupo ao trabalho autoral após o sucesso do projeto Tudo Vira Reggae (2023), que trouxe releituras consagradas de clássicos da música brasileira.

Para montar o repertório do novo show, a banda revisitou o seu extenso repertório que contempla 13 álbuns. Sobre ter redescoberto canções e como foi feita a seleção para o setlist, Tales De Polli apontou em entrevista ao TMDQA!:

“A gente estava brigando até pouco tempo sobre que música entra, que música que não entra. E a gente chegou num período que falou, ‘cara, todo mundo assina aqui, vamos reconhecer firma, não vamos mais mudar o repertório’. A gente tem acho que mais de 13 álbuns lançados e depois que você foca, começa a olhar na carreira dos 20 anos, você começa a descobrir músicas que você tinha esquecido, sabe?

Então a gente conseguiu equilibrar bem um repertório onde a gente flutua por todos os trabalhos do Maneva. Acho que todas as músicas contemplam todos os álbuns lançados do Maneva, contemplam também nossas vontades pessoais de tocar tal música ao vivo, e contempla também o que o público espera, que são os grandes sucessos e do ‘Tudo Vira Reggae’. Então acho que está uma grande galáxia musical, podemos dizer assim. Um grande sistema solar, com o Manevão no meio e as músicas e o público flutuando em volta.”

Na conversa, os cinco integrantes do Maneva também comentaram sobre os momentos decisivos da trajetória da banda, o que eles ainda desejam conquistar e refletiram sobre a cena do reggae nacional.

Confira o papo na íntegra abaixo e a agenda de shows do Maneva ao final da matéria!

TMDQA! Entrevista Maneva

TMDQA!: Oi pessoal, boa tarde! Tudo bem? Vocês lançaram no final do ano passado o disco “Origem”, que resgatou a identidade autoral do Maneva depois de vocês terem feito um disco de releituras. Como tem sido a repercussão do álbum até agora? O retorno dos fãs foi como vocês esperavam?

Tales: Ah, boa tarde aí! Tudo bom? Obrigado pelo espaço. Cara, eu acho que o “Origem” é justamente essa reconexão, né? Acho que, quando a gente fala de origem, a gente fala de um período em que passamos muito tempo fazendo as coisas, produzindo, tocando tudo. Foram 10 anos de banda independente, e agora a gente consegue trazer de novo essa conexão, não só com o autoral, mas também com a parte de produção, com a convivência entre a gente, na parte musical, nas ideias, nos valores. Acho que é uma parada que realmente remonta a 2005, 2006, quando a gente começou o Maneva. E a recepção do público foi incrível.

Acho que é uma parada que a gente sente nos shows. A galera cantando, a gente sente depois dos shows também, nas fotos, nos testemunhos, com a galera falando que realmente é o Manevão de volta, sabe? Volta aquele Maneva de 20 anos atrás, que cantava por acreditar no que estava cantando, de tirar as coisas do peito mesmo, tirar os pesos da frente e ter a música e a arte como o verdadeiro objetivo do disco.

Diego: A gente aproveitou o momento também do álbum, a gente gravou um audiovisual no Desertos do Atacama, e nos conectamos novamente, nós cinco, sabe? Em produzir, fazer essa produção, e trazer um pouco do que foi aquele sentimento no deserto, nós cinco, pra grandiosidade do trabalho que a gente trouxe. Então acho que a gente conseguiu representar bem isso daí por lá.

TMDQA!: Esse disco vai acompanhar a turnê de celebração de 20 anos da carreira de vocês. Como vocês estão se sentindo e como está a expectativa para pegar a estrada com essa turnê?

Tales: A gente sempre gosta de comemorar, a gente é de festa, gosta de celebração, e sempre teve essa ideia, principalmente quando ainda éramos independentes, antes do nosso primeiro empresário, de colocar as coisas na rua. A gente fez dez anos, né, Diego? Comemorou alguns aniversários. Teve aquele aniversário de oito anos, lembra? Foi uma das maiores celebrações. Aos dezoito, também comemoramos, a gente sempre celebra, porque gosta mesmo disso. E agora conseguimos trazer os 20 anos. Acho que 20 anos é algo emblemático. Duas décadas!

A banda se torna um jovem adulto, ou uma jovem adulta, talvez, na realidade. E, cara, a gente queria agradecer também à Universal, à Global Music, à GTS, por terem tirado essa ideia do papel junto com a gente. Acho que é fundamental poder celebrar junto com o nosso público, com os nossos fãs. Vai ser algo realmente diferente, tocante e marcante. Acho que vai ser uma coisa muito especial, que vai ser falada e que vai ecoar por muitos e muitos anos, essa turnê de 20 anos do Maneva.

TMDQA!: O nome da turnê, “Origem”, carrega um peso simbólico forte. Como foi revisitar os primeiros passos da banda nesse processo de criação do show? Teve alguma redescoberta?

Tales: A gente estava brigando até pouco tempo sobre que música entra, que música que não entra. E a gente chegou num período que falou, ‘cara, todo mundo assina aqui, vamos reconhecer firma, não vamos mais mudar o repertório’. A gente tem acho que mais de 13 álbuns lançados E depois que você foca, começa a olhar na carreira dos 20 anos, você começa a descobrir músicas que você tinha esquecido, sabe?

Então a gente conseguiu equilibrar bem um repertório onde a gente flutua por todos os trabalhos do Maneva. Acho que todas as músicas contemplam todos os álbuns lançados do Maneva, contemplam também nossas vontades pessoais de tocar tal música ao vivo, e contempla também o que o público espera, que são os grandes sucessos e do ‘Tudo Vira Reggae’. Então acho que está uma grande galáxia musical, podemos dizer assim. Um grande sistema solar, com o Manevão no meio e as músicas e o público flutuando em volta.”

TMDQA!: Com 20 anos de carreira, quais vocês diriam que foram os momentos mais decisivos na trajetória da banda? Houve algum ponto de virada em que vocês sentiram que alcançaram o que desejavam como grupo?

Tales: Eu tenho uma história até que envolve a galera, que é bem legal, que eu tive uma… Eu trabalhava no ramo de Telecon, e eu tive uma proposta meio que life changing, assim. Uma parada que tinha carro da empresa e tal, que eu tinha que mudar de cidade, um salário astronômico, assim, pros padrões da época, pros padrões que eu ganhava. E aí eu cheguei, fui comunicar a galera, falei, pô, aconteceu isso e tal, acho que é uma parada que é meio irrecusável. Aí o Felipe olhou pra mim e falou, “pô, você tá enganando a gente esse tempo todo, cara?”.

Então foi uma parada que me marcou muito que falou que foi aquele chamado. Acho que a importância de não estar sozinho no mundo. Imagina ser um artista solo, você tinha caído pra dentro de uma outra parada, que provavelmente não estaríamos comemorando 20 anos hoje. Acho que isso foi bem marcante pra mim.

Fábio: Eu acho que pra mim, nesses 20 anos de carreira, o que marcou foi na nossa ida ao Grammy, com “Lágrimas de Alegria”, e tá nós cinco lá, pós-pandemia ali, tava bem no finalzinho de pandemia, nós cinco ali naquela cerimônia ali, foi muito especial pra gente saber que a gente tá no caminho, certo? Então foi muito especial ali nesses 20 anos aí.

Felipe: Eu acho que pra mim é a primeira vez que a gente viajou pra fora. Europa, foi legal pra caramba. Aí você tá na Europa, você fala, “caramba, onde que a música tá te levando, né? Seu trabalho…” É gostoso demais.

Diego: Eu acho que o ponto de virada do Maneva é um dia após o outro. Eu e os meninos estamos com 20 anos de carreira, 20 anos de muita coisa vivida, só que a gente tem a mesma alegria, o mesmo brilho no olhar, a mesma vontade que era desde o primeiro dia de banda a gente estar nesse 20º ano, assim, sabe? Isso deixa a gente muito feliz, essa vontade de trabalhar, de tocar, de produzir novos trabalhos, de produzir novos shows, de trazer novas experiências pro público. Eu acho que isso é o que carrega e que pauta a nossa carreira. A gente ter a mesma vontade que tinha 20 anos atrás e que teremos daqui 20 anos pra frente.

Fernando: Eu acho isso aí também. A gente gosta de comemorar marcos, tudo, né? Coisas pontuais, assim, mas eu acho que é exatamente o que o Diego falou, o nosso dia-a-dia acho que faz muito mais sentido, né? Os planos que a gente faz, o nosso dia-a-dia. A gente não tem esses padrões de banda pop, de mercado, mas acho que o que orgulha muito a gente é esse nosso crescimento gradativo. Ano após ano a gente tá sempre com crescimento, com um trabalho muito legal, com álbum muito legal, com uma coisa nova. Então eu acho que o nosso dia-a-dia e a nossa criatividade, a nossa união, que eu acho que é o que faz a gente ser o que a gente é hoje.

TMDQA!: Vocês normalmente atraem um público expressivo para os shows. Eu queria saber ao que vocês atribuem essa conexão tão forte entre vocês e o público durante os shows?

Tales: Acho que a identificação num nível pessoal e íntimo, num nível subjetivo mesmo. Acho que é o grande lance da correspondência desse tipo de amor, de carinho, de presença. E quando a gente fala de Maneva, a gente fala de música do coração para corações. Música da alma pra almas. E eu acho que isso sintetiza bem essa fervorosidade do público do Maneva nos shows. Eu acho que isso pra gente vale muito mais do que qualquer parada, do que qualquer coisa material. Tudo que a gente consegue mudar na vida das pessoas, trazer conforto, acolhimento, acalmar, realmente é algo que bate diferente. E, com certeza, esse é o caso do Maneva e do seu público.

Fábio: Eu acho que o Maneva tem música pra todos os momentos da vida, né? Ninguém tá feliz sempre, ninguém tá triste sempre. O Maneva tem canções pra todas essas fases. Acho que é por isso que a galera se identifica tanto, porque carrega isso desde os 20 anos. “Pô, eu conheço vocês desde 2015, ah, eu acompanho desde 2005!”. Acho que a discografia é bem completa, e acho que é por isso que a galera acompanha a gente em todos os momentos.

TMDQA!: Como vocês enxergam o papel do Maneva no cenário atual do reggae brasileiro? Eu queria saber se vocês sentem que abriram caminhos para novas gerações e se vocês perceberam a presença de um público mais jovem também acompanhando o trabalho de vocês?

Tales: Cara, é notório. Toda vez que a gente lança um trabalho e vai pros shows, dá pra ver que o público está sempre se renovando. Começa a colar uma galera mais nova, pessoal de 17, 18, 19 anos. E, dependendo da região do Brasil, você vai vendo que miscigenou principalmente a faixa-etária. A gente vê gente de 18 a 44 anos no show do Maneva num volume muito grande. E isso é muito legal para uma banda com 20 anos de carreira. Tem casos que passa de pai pra filho, então é uma loucura ver o poder que a música tem, o poder da identificação e o poder da arte em relação a esse tipo de parâmetro.

TMDQA!: E com relação às outras bandas, assim, de reggae, que vocês veem surgindo, e o fato de vocês também receberem relatos de que o Maneva é uma influência, uma inspiração para essa cena do reggae brasileiro?

Tales: Cara, eu não sei se é tanto a cena ou se é o reggae em si. A gente não vê tantas bandas novas surgindo, mas vemos muita gente que já está na cena há algum tempo, com a mesma gana de vencer, de trabalhar duro, de trabalhar sério. Não que antes não trabalhassem, mas de uma maneira mais focada, talvez. Então, acho que a nossa contribuição foi mais nesse sentido do que para artistas novos da cena. A gente vê muito artista solo, de música brasileira, que acompanha bastante a parte da caneta, da composição. Não necessariamente o estilo reggae, mas mais o estilo de composição, de sonoridade, que é reggae, mas também incorpora influências de música brasileira, de jazz, é um grande caldeirão musical, apesar da vertente principal ser o reggae.

Então, a gente percebe muito mais essa galera chegando pelas redes sociais, fazendo covers, mandando canções pra gente gravar, mandando trabalhos pra gente “avaliar”, do que necessariamente dentro da cena do reggae. Nessa cena, a gente vê que, tipo, a galera que já está por lá acaba ficando um pouco desanimada às vezes, volta a trabalhar, volta a produzir, volta a compor. É algo legal de ver, porque, não que seja só o fato do Maneva, mas acho que é uma contribuição nossa, mesmo que pequena.

TMDQA!: E falando dessa cena, vocês já mencionaram o Natiruts como uma referência importante da carreira de vocês. Eu queria saber como a notícia do fim do grupo impactou vocês, como banda e como fãs do reggae nacional?

Tales: É ruim, né? Como fã, é ruim pra caramba, como artista também é ruim, mas a gente entende e respeita o espaço de cada um. O Nat é uma grande referência do reggae nacional, um dos pioneiros, junto com o Cidade Negra e tal. E a gente fica triste, fica chateado, mas acho que todo mundo sabe o momento de continuar e o momento de parar. Então, a gente não tem nada além de amor e respeito pela decisão deles. Pô, fim de carreira de uma carreira brilhante, digna de aplausos, e o encerramento apoteótico também, com quatro datas no estádio. E a gente trabalha não pra acabar, mas pra chegar junto nessa parada também, sabe? Acho que é uma referência máxima. A gente fica triste, mas respeita, com muito amor e acolhimento, nada além de amor pra eles e muito respeito.

Fábio: E que bom que a gente pôde dividir o palco juntos, e termos uma participação em “Lágrimas de Alegria”, que foi pro Grammy.

TMDQA!: Muitos anos de estrada, muitas conquistas. O que vocês ainda desejam conquistar ao longo dos próximos anos da banda? Tem alguma parceria tanto nacional como internacional que vocês ainda sonham em fazer?

Tales: Eu acho que, cara, o principal, o meu principal objetivo, é continuar feliz, saudável, realizado e fazendo música, estando junto com o Maneva, cantando, na estrada, fazendo shows. Eu acho que é o objetivo principal. Porque a gente sabe como o humor, a vida, as coisas, são mutáveis. Às vezes, uma coisa que a gente gosta muito pode deixar de gostar. Às vezes, gosto de estar na estrada, e em outro momento posso não gostar. Então, sempre peço para que eu continue gostando do que estou fazendo, para que eu não perca essa vontade, esse brilho, esse fogo de estar com o Maneva por muitos e muitos anos.
E das parcerias tem vários. Acho que falar de um sonho só seria muito injusto, até um pouco egoísta, talvez. Não sei, é difícil falar de bate-pronto. Mas eu gosto muito do Zé Ramalho, acho ele um cara icônico, um cara que eu ouço muito, que gosto bastante. Mas nesse ramo também tem outras pessoas com quem eu gostaria de fazer parceria. Então, pra mim, é difícil falar de apenas uma.

Felipe: Tem muita gente boa, né?

Diego: Mas já adiantamos que, para este ano, a gente vai lançar bastante coisa colaborativa com outros artistas. Os próximos lançamentos, com certeza, terão várias colaborações. A gente ainda está decidindo, fazendo convites e aguardando as respostas, mas podem esperar diversas participações nos próximos lançamentos do Maneva.

TMDQA!: Pra gente encerrar, queria saber quais discos ou artistas têm sido os melhores amigos de vocês durante esse processo da nova turnê?

Tales: Benito di Paula tem me acompanhado muito. Benito di Paula tem sido a minha principal música que eu ando ouvindo, assim. Não sei por quê também, não tem nada a ver com o show, mas sei lá, estou amarradão.

Fábio: Eu revisitei o Maneva antigo. Revisitei os álbuns anteriores, desde o comecinho, fui ouvindo bastante coisa.

Diego: Vou falar do Gilberto Gil, que tive a honra de ir no show dele. Ele é uma aula para a gente, né? Estamos fazendo um show de uma turnê de 20 anos, e ele tem uma carreira tão longiva.

Fernando: Eu tenho escutado muito, agora e também na época da produção do disco, um cara que o Tales gosta muito também, o nome dele é Mike Pinto. É um reggae californiano, inclusive. Fica a dica aí para todo mundo conhecer, um reggae californiano. Ele tem umas linhas de baixo muito criativas. Não só o baixo, mas esse foi o meu foco principal. Foi um cara que eu acompanho até hoje, acho ele muito criativo e muito antenado nas novidades, principalmente no reggae music. Então, procurei trazer algumas coisas dele para dentro do “Origem”.

Felipe: E eu estava navegando em playlist aleatória. Gostei da introdução, eu vou até o final. Se não gostei, eu pulo.

OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! BRASIL

Música brasileira de primeira: MPB, Indie, Rock Nacional, Rap e mais: o melhor das bandas e artistas brasileiros na Playlist TMDQA! Brasil para você ouvir e conhecer agora mesmo. Siga o TMDQA! no Spotify!

O post TMDQA! Entrevista: Maneva celebra 20 anos com nova turnê e mergulho no próprio legado apareceu primeiro em TMDQA!.

Lara Teixeira

TMDQA! Entrevista: Maneva celebra 20 anos com nova turnê e mergulho no próprio legado


Publicar comentário

Você Quase Esqueceu