O impactante manifesto de Serj Tankian sobre o papel dos EUA no 11 de Setembro
Além do som pesadíssimo, o System of a Down ganhou notoriedade mundial por suas letras irônicas sobre guerras, justiça social e a hipocrisia dos poderosos – especialmente a partir do segundo álbum dos caras, Toxicity (2001).
Também foi nessa época que Serj Tankian se tornou uma voz importante para além da música, quando escreveu uma longa e impactante análise sobre o papel dos Estados Unidos na crise que levou aos atentados de 11 de Setembro.
Como te contamos nesta matéria, o disco do SOAD foi lançado apenas uma semana antes do ataque terrorista em Nova York e Washington D.C., e as opiniões de Serj sobre o ocorrido fizeram com que fosse chamado de “traidor”, atrapalhando a turnê da banda.
O manifesto foi publicado em seu blog pessoal em 13 de setembro de 2001, e “viralizou” naquele início da cultura da internet, e agora nós decidimos traduzir o texto completo para o português – leia mais abaixo para entender a posição de Serj naquela época, que destacava a política internacional dos EUA e os problemas decorrentes dela!
Vocalista do System of a Down também fez carreira como ativista
Nascido no Líbano em uma família armênia e criado nos Estados Unidos, Serj Tankian cresceu em meio a histórias de guerra, genocídio e exílio. Embora tenha se formado em marketing e trabalhado com música e tecnologia, ele sempre se envolveu em discussões sobre direitos humanos.
Ao longo dos anos o cantor publicou livros, discursou na ONU e deu entrevistas sobre o Genocídio Armênio para o mundo todo – inclusive à TV brasileira em 2020. E essa capacidade de Serj de se expressar com conhecimento e clareza já aparecia naquele manifesto publicado em 2001.
No texto, o vocalista do System tentou entender o que leva pessoas a cometerem atos de terror, e como o interesse cego dos EUA em reservas de petróleo no Oriente Médio pode ter contribuído para isso.
Serj Tankian alegou que o país ignorou o Genocídio Armênio e apoiou líderes autoritários na região para que o preço do combustível continuasse em baixa. Ele citou exemplos parecidos de intervenção norte-americana em nações como o Irã, o Iraque, Líbano e Afeganistão.
O manifesto é uma verdadeira aula de geopolítica e história, e você pode ler na íntegra e em português logo abaixo. System of a Down é MUITO mais que música mesmo!
Leia texto completo de Serj Tankian sobre papel dos EUA no 11 de Setembro
Por Serj Tankian
13/09/2001Os ataques/bombardeios brutais desta semana em Nova York e Washington D.C., juntamente com as ameaças de ataques em outras partes do país, mudaram o nosso tempo para sempre. Enquanto a mídia de massa se concentra nos detalhes da destruição e nas palavras generalizadas dos políticos, eu vou tentar entender e explicar os eventos desde a trincheira. BOMBARDEAR E SER BOMBARDEADO SÃO AS MESMAS COISAS EM LADOS DIFERENTES DA TRINCHEIRA.
O terror não é uma ação humana espontânea e sem fundamento. As pessoas simplesmente não sequestram aviões e cometem harikari [sic] (suicídio) sem pesar suas decisões para essa ação. Ninguém na mídia parece se perguntar POR QUE ESSAS PESSOAS COMETERAM ESSE ATO HORRÍVEL DE VIOLÊNCIA E DESTRUIÇÃO?
Para entender a resposta a essa pergunta, devemos primeiro analisar a política dos EUA para o Oriente Médio. Durante a maior parte do século 20, empresas dos EUA trabalharam para obter direitos e concessões de petróleo de países do Oriente Médio e da Europa Oriental. Após a Primeira Guerra Mundial, acordos secretos feitos pelo nosso Departamento de Estado cederam direitos petrolíferos da então derrotada Turquia para campos no que hoje é o Iraque e a Arábia Saudita, e em troca os EUA fizeram vista grossa para um crime contra a humanidade – o Genocídio dos armênios pelos turcos. Os lucros do petróleo têm motivado tentativas de contrainsurgência de regimes democráticos pela CIA e pelos EUA no Oriente Médio (como no Irã nos anos 1950, onde o Xá substituiu o primeiro-ministro que se recusou a ceder direitos sob petróleo aos EUA e, como o povo não conseguiu lidar com o Xá, um governo extremista liderado pelo aiatolá Khomeini acabou prevalecendo). Durante a guerra entre o Irã e o Iraque, os EUA forneceram armas e conselhos a ambos os lados. Essas não são ações de uma superpotência que deseja a paz. Não vamos esquecer que Saddam Hussein, antes de ser a visão norte-americana do Anticristo, era um aliado próximo dos EUA e da CIA. Então, qual foi o sistema de crenças de seguidas administrações norte-americanas que causou tudo isso? A PAZ NO ORIENTE MÉDIO LEVARÁ AO AUMENTO DOS PREÇOS DO PETRÓLEO E DA GASOLINA. Lembro também o poder da indústria de armas, disfarçada como defesa, que ainda vende bilhões de dólares em armamento para a região. Portanto, não tem sido do interesse econômico de curto prazo dos EUA promover a paz no Oriente Médio. Usando o raciocínio acima, os EUA incentivaram governos extremistas, derrubaram democracias – no caso do Irã para substituí-lo por uma monarquia –, fraudaram eleições e comteram muitos outros crimes políticos para beneficiar empresas norte-americanas no exterior. Não vamos esquecer ainda do Red Scare. Durante a guerra entre a então União Soviética e o Afeganistão, os EUA armaram e apoiaram o Talibã, uma organização muçulmana fundamentalista, e permitiram que eles exportassem ópio e heroína de seu país para pagar por essas armas. Portanto, o Talibã conseguiu poder e controle com ajuda dos EUA. Hoje o bombardeio no Iraque continua e não é mais coberto pela mídia, o embargo econômico permanece, matando milhões de crianças e, recentemente, enquanto a Assembleia Geral da ONU implora para enviar forças de paz ao Iraque e à Palestina, para encerrar a guerra e os assassinatos, os EUA vetaram o restante do Conselho de Segurança e interromperam a possibilidade de paz no local mais volátil do mundo.
O povo da Sérvia, do Líbano, Iraque, Sudão e Afeganistão, para citar alguns exemplos, também viu bombas caírem, nem sempre em alvos militares, matando civis inocentes como aconteceu ontem na cidade de Nova York. As guerras travadas pelo nosso governo em nosso nome aterrissaram bem no meio da nossa sala de estar. A meia hora de destruição fechou os mercados financeiros mundiais, atingiu o quartel-general das nossas Forças Armadas e fez nossos líderes correrem para os bunkers, enquanto os cidadãos viviam o medo e o frenesi. O que mais me assusta é o que a nossa reação pode causar. O presidente Bush pertence a uma longa geração de presidentes Republicanos que adoram economias de guerra. A mídia se concentrou apenas nos bombardeios e no tipo de retaliação que se aproxima para os criminosos. O que ninguém percebe é que os atentados são uma reação a injustiças existentes em todo o mundo, geralmente invisíveis para a maioria dos norte-americanos. Reagir a uma reação seria incentivar ainda mais a reação. Em outras palavras, minha crença é que o terror se multiplicará se não forem tomadas medidas concretas para promover a paz no Oriente Médio, AGORA. Isso não significa que não devemos encontrar os culpados, Bin Laden ou quem quer que seja, e trazê-los à Justiça. Enquanto houver uma grande injustiça, a violência se precipitará na superfície da vida.
O folclore dos norte-americanos nativos, a Bíblia, Nostradamus e várias outras religiões importantes apontam para esta era com imagens de desastres do passado, e tragédias ecológicas que já vivenciamos diariamente em nossas vidas. Guerras, rumores de guerra, a fome, os longos incêndios e etc, eles estão à nossa porta. Nós podemos vencer essa visão com o poder do espírito humano, da compreensão, da compaixão e da paz. É HORA DE COLOCAR NOSSAS NECESSIDADES DE SEGURANÇA E SOBREVIVÊNCIA, ALCANÇADAS SOMENTE POR MEIO DA PAZ, ACIMA E ALÉM DOS LUCROS, ESPECIALMENTE NESTES TEMPOS.
SOLUÇÃO:
Os EUA devem parar de se contrapor ao Conselho de Segurança da ONU e permitir a presença de tropas de paz no Oriente Médio. Parem com a violência primeiro.
Parem o bombardeio e o patrulhamento no Iraque.
Com os ganhos atuais no uso de combustíveis alternativos, desenvolvam-os para uso total em automóveis e outros serviços, para tornar o país menos dependente de uma reserva natural que já está se esgotando, o petróleo.
Ao iniciarmos a paz, já teremos abalado as bases de apoio a Bin Laden e todos aqueles que patrocinam atividades como as que vimos ontem, e quebraríamos a força dos extremistas no mundo do Islã. Por outro lado, se continuarmos bombardeando o Afeganistão ou qualquer outro lugar para agradar a opinião pública, e muito provavelmente matando civis inocentes ao longo do caminho, estaremos criando mais mártires que morrerão em retaliação à retaliação. Como demonstrado pelos eventos de ontem, não se pode deter uma pessoa que está pronta para morrer.
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Rafael Teixeira
O impactante manifesto de Serj Tankian sobre o papel dos EUA no 11 de Setembro
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